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Fábulas menores de moral mínima - 2


Outro dia descobriram uma falcatrua laticínia, mas cá pra nós, num país que engole chiclete com banana, não espanta que se tome leite com água oxigenada. E não foi só o Latino e a Marta Suplicy que tomaram, viu? Foi o Brasil inteiro, de Rosane Collor aos roteiristas de programas infantis, de Galvão Bueno às apresentadoras de programas infantis.

Hoje, quando se vê a horda de mães passando pelo buraco da agulha pra pegar o melhor lugar para suas filhinhas no show do RBD, vem a pergunta: as donzelas e futuras mamães já tomavam leite oxigenado nos anos 80? É isso ou elas estão apenas colhendo o que plantaram, ou seja, quem com Menudo fere com RBD será ferido (a prova está nesse link).

Não é à toa que passamos por uma indigência musical aterradora. A pagodização dos anos 90 deu cria e a trilha sonora do início do milênio são os musicais da Broadway adaptados, a insipidez de Vanessa Camargo, o eterno último show de Sandy e Junior, os uivos de Daniel e a volta daquele que nunca foi: Belo. Sem contar, claro, o funk da evangélica Perlla e o pagode gospel da banda Tempero do Mundo, cujo líder é nada mais nada menos que o senador quase-cassado (pra variar) Magno Malta.

Para explicar porque mais vale um Noel Rosa sem choro nem vela do que dois sertanejos berrando (pra não dizer cinco pagodeiros dublando), segue mais uma fábula menor de moral mínima:

Dois condenados à morte estavam nos umbrais da execução, quando se achega o representante dos direitos humanos e lhes concede a graça de um último desejo. O primeiro condenado poderia ter pedido para aprender mandarim e prorrogar indefinidamente sua execução. Mas, aquele peito desafinado não titubeou e pediu:
- Quero ouvir o cd “O melhor do pagode vol. 3”.
Ouvindo aquele pedido, o segundo condenado implorou:
- Posso morrer antes dele?

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