Pular para o conteúdo principal

Postagens

Mostrando postagens de maio, 2008

Música na escola

A votação do projeto de lei 2732/2008 que trata da educação musical na escola foi adiada para o dia 28 de maio, no plenário 10 na Comissão de Educação e Cultura da Câmara. Apesar do apoio que o projeto tem recebido de vários setores da sociedade, a população não parece bem informada das propostas do projeto que traz a educação musical de volta para a sala de aula. Há pessoas que desconhecem o caráter do projeto em pauta e acabam desvalorizando ou superestimando essa iniciativa pedagógico-musical. Os que superestimam crêem que a musicalização dos estudantes brasileiros resolverá problemas estéticos, afetivos e psico-motores das crianças e adolescentes, como uma panacéia que sarará a terra brasilis da indigência cultural e falência moral. As notas dos alunos subiriam vertiginosamente devido aos benefícios para a inteligência e para a memória, revelando mozarts e jobins tupiniquins à rodo. Os que desvalorizam esse projeto chegam ao cúmulo da ignorância, como certo articulista da revista

Everybody loves Zeca Pagodinho

A charge do Amarildo apresenta o que se pode chamar de "armas de destruição em massa". Não adianta as propagandas de cerveja se encerrarem com os dizeres "se dirigir, não beba" ou "se beber, não dirija". Isso é tão inócuo quanto colocar ao final de uma propaganda de carro a frase "não corra, não mate, não morra". Mesmo porque os anúncios de carros são irmãos univitelinos dos comerciais de cerveja. Ambos vinculam seu produto à equação do mundo-macho jovem: prazer de dirigir/prazer de bebericar + uma(s) mulher(es) no banco/à mesa = velocidade/alegria com ou sem moderação. Não vai demorar e vão mostrar um sujeito dirigindo que não sabe se olha pra frente, pra Juliana Paes do lado ou pra latinha de cerveja que o Zeca-Feira Pagodinho lhe oferece do banco de trás. Nesse ano, o lobby das cervejas fez um escarcéu dizendo que queriam acabar com "a liberdade do consumidor" e com "a liberdade de expressão" pois as cervejarias não pod

A liberdade não é só uma casa grande

13 de maio de 2008: 120 anos da Lei Áurea, que alforriava os escravos mas os lançava no limbo social, onde nem eram livres realmente nem escravos propriamente. Embora houvesse abolicionistas de todas as cores e credos, muitos ainda confundiam (confundem) inteligência, cultura e religião com geografia, outorgando o bom, o belo e o justo somente a uns poucos eleitos estrangeiros. Em Os Tambores de São Luís , grande romance em que Josué Montello traça um painel da sociedade escravocrata maranhense (por opção, mas brasileira por extensão), o negro Damião é um personagem que percebe a hipocrisia da casa-grande cristã durante uma visita do bispo da capital: "Por que era escravo? E porque também eram escravos os negros que enchiam a capela? ... Deus estaria de acordo com aquela distinção? Uns livres, outros escravos? Uns sentados, outros de pé? No entanto, ali na fazenda, os brancos constituíam a maioria privilegiada, que oprimia a multidão de negros, sem lhes dar direito a nada, nem me

Os hits e os invasores de ouvidos – parte 2

Escrevi sobre os hits da moda e houve aqui e ali certo queixume. Entendeu-se que o estilo musical mencionado é inapelável e intrinsecamente ruim. Porém, quando escrevi sobre a mistura de pagode com reggae não quis dizer que esse casamento está em jugo desigual, tipo casamento de celebridades – no tocante à duração são semelhantes (ok, você venceu, esses hits duram mais tempo que casamentos de celebridades). Mas nunca diria que um estilo musical pode nascer de uma fonte de água tão amarga que não dê pra fazer um Tang que seja. Quando Armandinho e congêneres dizem tocar reggae, eu saco do bolso meu sal-de-frutas. Esse pseudo-reggae nada tem a ver com o reggae de Bob Marley nem mesmo com o estilo regueiro da Tribo de Jah. O que andam fazendo é misturar as indigentes melodias e as letras neuro-vegetativas do pagode mauricinho com a batida característica do reggae. Na virada do século XIX para o XX, pagode era como se chamava um baile pré-carnavalesco surgido num Rio de Janeiro onde as roda

Quem não gosta de berimbau, bom sujeito não é

A Bahia é boa terra / Ela lá, eu aqui, Iaiá Os versos do samba Quem São Eles , de Sinhô, datam de 1918 e dirigiam-se aos baianos concorrentes das rodas de samba. A essa provocação seguiram-se réplicas e tréplicas em forma de música com a participação do baiano Hilário Jovino Ferreira, um dos pais das escolas de samba cariocas, e dos descendentes de baianos João da Baiana e Donga (autoproclamado autor de Pelo Telefone ), e até Pixinguinha. Noves fora a polêmica entre os compositores populares, a canção popular oriunda dos festejos dos negros era combatida oficialmente e contraditoriamente era celebrada em festas com a presença da elite política que elaborava as leis. Como conta João da Baiana, certa noite seu pandeiro foi tomado pela polícia quando se dirigia a uma festa no palacete do senador Pinheiro Machado, o qual, ao saber do fato, mandou fazer outro pandeiro para o sambista, agora com a seguinte dedicatória, que lhe serviria de salvo-conduto: "A minha admiração, João da Baian