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Mostrando postagens de novembro, 2008

Devastação em Santa Catarina: relato de um amigo

A internet nos providencia novos amigos a cada dia. Ou, pelo menos, amigos virtuais. Um destes é Douglas Reis, jovem blogueiro e professor de Religião em Itajaí, Santa Catarina. Em seu relato, que reproduzo integralmente direto do seu blog , ele conta como enfrentou a cruel realidade das enchentes que submergiram quase toda a cidade. Amigo, sei que o modo como você reagiu a essa tragédia é uma Questão de Confiança . São pessoas assim que irão corajosamente reconstruir suas vidas e as vidas dos semelhantes. Foto da casa de Douglas Silva. "A decisão mais importante que tive de fazer de domingo para cá foi, sem dúvida, a de subir os móveis. Contrariando a máxima segunda a qual “ninguém é uma ilha”, vários municípios catarinenses foram vitimados por enchentes, ocasionadas pelas fortes chuvas que sobrevieram à região. No sábado à noite, durante uma programação regional da igreja, fiquei sabendo da gravidade do problema das enchentes. O presidente da Associação Catarinense dos Adventist

Muito barulho por nada

Se houve um tempo em que as pessoas iam aos cinemas para entrar em outro mundo, conhecer outras realidades ou simplesmente escapar da dureza da vida real nem que fosse por duas horinhas, esse tempo parece cada mais longe. Ninguém precisa entrar num cinemark pra entender isso. Críticos comentam que muita gente não se desliga do mundo lá fora e continua com os celulares ligados. A atenção dedicada é menor. Noutro dia, uma matéria na TV mostrou um cinema em que a platéia era formada de pais com seus bebês. Amamentava-se, trocavam-se fraldas, se ouviam choros, tudo para alimentar o modismo e a satisfação de dizer aos amigos e amigas que se foi a um cinema com um bebê de colo. Em outro cinema, pessoas assistiam ao filme numa galeria onde podiam pedir bebidas, quitutes e conversar. Para quê ir, então, se não se vai assistir o filme? Nunca entendi porque é preciso encher o estômago enquanto se vê um filme. Talvez, com o cérebro dividido entre ordenar o delicioso caos nutricional e entend

Cem Palavras: religião

"A religião, na verdade, é a consciência da insuficiência humana, é vivida na admissão da fraqueza (...) Nós deparamos com dois caminhos inconciliáveis de aceitar o mundo e a nossa posição nele, nenhum dos quais pode ufanar-se de ser mais 'racional' do que o outro... Uma vez feita, qualquer escolha impõe critérios de julgamento que, infalivelmente, a apóiam numa lógica circular: se não há Deus, só critérios empíricos devem guiar-nos o pensamento, e critérios empíricos não conduzem a Deus; se Deus existe, Ele nos dá pistas sobre como perceber Sua mão no curso dos acontecimentos, e com a ajuda dessas pistas reconhecemos a razão divina do que quer que aconteça". (Leszek Kolakowski, em Religion: If there's no God... On God, the Devil, Sin and other Worries of the so-called Philosophy of Religion - citado por Zygmunt Bauman, em O mal-estar da pós-modernidade )

Fábulas menores de moral mínima - 5

Há tempos que não escrevo novas Fábulas Menores de Moral Mínima , embora o ambiente esteja inspirador. Mas é que até o Chávez anda se comportando direitinho... ou esquerdinho. O homenageado da vez é John Cage, o compositor que libertou a música das amarras da partitura com sua obra 4'33 (uma peça em que os músicos entram no palco, abrem as partituras e não tocam nada por 4 minutos e 33 segundos - o som ficaria por conta da reação da platéia ao silêncio). Mas ele também transformou a experiência musical em mero happening , aquele tipo de evento que acha que a banalidade é genial. COMO ENCHER UM SILÊNCIO SELVAGEM Os músicos entram, se sentam, abrem as partituras e... Após os 4 minutos e 33 segundos de silêncio naquela sala de concerto, um distinto cavalheiro, temendo romper o clima pós-moderno, cochicha num discreto tom menor: - É bonitinho! Mas é arte? Um mancebo de penteado dodecafônico e cacófato perfume, que nunca tinha ficado calado por 4 minutos e 33 segundos na vida, se exalta

Eram os deuses mercadores?

“A todos os Homens e Mulheres de Deus, cujo Espírito Santo despertou, venha trabalhar conosco para tomarmos posse da terra prometida”. Esse é um apelo para evangelizar a Palestina? É um chamado avivalista para a conversão? Nada disso. É apenas a convocação de distribuidores do refrigerante Leão de Judá Cola . A terra prometida é anunciada no site da empresa: o mercado de refrigerantes no Brasil que movimentou 19 bilhões de reais em 2007. O irmãozinho, a irmãzinha tem dúvidas sobre a garantia do negócio? A empresa, não. Segundo informa, “o Espírito Santo já nos confirmou que Ele tem 7 MIL Distribuidores Leão de Judá somente no Brasil, que o próprio Deus escolheu para trabalharmos juntos” . Para ratificar a segurança do negócio, a empresa cita um verso bíblico: “Também conservei em Israel SETE MIL, todos os joelhos que não se dobraram a Baal, ... (I Reis 19:18) . O Leão de Judá Cola é a proposta do empresário Moisés Magalhães para dominar o mercado mundial, sim, mundial, de refrigerante

cem palavras: ninguém nasce musical

Ninguém nasce musical. Em vez disso, as pessoas nascem com capacidades de atenção, consciência e memória que as habilita a aprender a pensar musicalmente - fazer e ouvir música de forma competente, senão proficiente. A musicalidade é adquirida por meio do ensino e aprendizagem de música; não é dom nem talento. Na verdade, alguns parecem ter altos níveis de inteligência musical e alto nível de interesse em aprender a fazer/ouvir música. Esses fatores podem capacitar tais pessoas a desenvolver musicalidade e criatividade musical de forma mais profunda e abrangente que outras. Entretanto, a maioria das pessoas tem suficiente inteligência musical para obter um mínimo de nível competente de musicalidade através de um programa sistemático de educação musical. (David Elliott, em Music Matters )

O Messias: música humana e divina

300 anos antes dos clubes ingleses de futebol nadarem em dinheiro, inflacionarem o mercado da bola com contratos milionários e disputarem a tapas e libras o passe dos craques, os teatros ingleses de ópera inflacionavam o mercado lírico e disputavam o passe das divas e maestros da música. Foi para esse paraíso musical e financeiro que George Friedrich Haendel decidiu levar seus dotes. Músico excepcional, empresário nem tanto. Enfrentando os rivais italianos - Haendel era mais um concorrente; os rivais ingleses – Haendel era alemão; e os credores - sua casa de ópera fracassava, Haendel foi à falência por duas vezes. Pior, sofreu uma paralisia no lado direito do corpo e foi proibido de encenar suas óperas no palco. Escreve, então, óperas de enredo bíblico para salas de concerto: são os oratórios, obras que lhe granjearam a fama e o fez passar “de indivíduo à instituição e, finalmente, a uma completa indústria”, define o músico e biógrafo Christopher Hogwood. O homem do “Aleluia de Haende

Escritores em busca do Deus perdido

Anne Rice está de novo na lista de best-sellers, mas não se trata de mais um romance da saga de vampiros que chegou a vender 75 milhões de cópias. Desta vez, a autora lança seu livro de memórias, Called out of darkness: a spiritual confession (Chamada para fora da escuridão: uma confissão espiritual), e procura ser reconhecida como uma escritora cristã séria. "Meu objetivo é simples: escrever livos sobre nosso Senhor vivendo na Terra e fazê-lo real para as pessoas que não acreditem nele; ou pessoas que nunca tentaram acreditar" , diz a autora. E reforça: "Eu tornei os vampiros em algo crível para mulheres adultas. Agora, se eu pude fazer isso, eu posso fazer nosso Senhor Jesus Cristo crível para as pessoas que nunca acreditaram" . Mesmo que não pretenda impressionar os críticos, no site de Anne Rice, há colunistas que apreciaram a nova empreitada da escritora. O jornal Los Angeles Times: "As memórias de Rice mostram o que uma crença verdadeira envolve" .

Cem Palavras

A música não deve ser praticada por um só tipo de benefício que dela pode derivar, mas por usos múltiplos, já que pode servir para a educação, para proporcionar a catarse e, em terceiro lugar, para o repouso da alma e a suspensão das fadigas. Aristóteles, em Arte Poética Todo homem que em si não traga música E a quem não toquem doces sons concordes, É de traições, pilhagens, armadilhas. Seu espírito vive em noite obscura, Seus afetos são negros como o Érebo: Não se confie em homem tal. William Shakespeare , em O Mercador de Veneza A série Cem Palavras começa hoje aqui no Nota na Pauta . Nessa seção, farei um controlC + controlV de citações, dizeres e pensamentos que valem uma reflexão. Porque não há nada de novo debaixo do sol nem dentro dos blogs.

Canção Cristã e Cultura Brasileira

Por que a maioria dos protestantes brasileiros aprecia uma hinologia ou um conjunto de músicas de origem americana ou européia mas demonstra pouca tolerância para com as canções religiosas de estilo popular nacional? Esta é uma pergunta para a qual podemos dar várias respostas erradas, como: é uma questão de gosto, ou, é o respeito às tradições litúrgicas, ou ainda, é devido ao preconceito em relação à cultura brasileira, e a pior de todas, deve-se a uma alienação cultural americanizada e pequeno-burguesa. Vou procurar algumas respostas que podem explicar esse tema que divide gerações de fiéis. Gosto (o bom e o mau, se me permitem os relativistas mais ferrenhos) é algo que se constrói socialmente. Para Pierre Bourdieu, as diferenças entre os gostos musicais não se assemelham às diferenças de paladar alimentício – este estaria mais profundamente inscrito em nossos corpos que o paladar musical. O estudioso francês acrescenta que os diferentes gostos musicais não remetem unicamente a “pre

Uma carta para Obama

Comenta Idelber Avelar, brasileiro, professor em Tulane University, eleitor de Barack Obama: “É de se comemorar, por si só, o fim do regime mais desastrado, inepto e mentiroso da história da república norte-americana. É de se celebrar o surgimento de um verdadeiro estadista, um homem que, no pódio da vitória, não esfrega seu sucesso na cara dos outros, não tripudia sobre os vencidos, não joga seus apoiadores contra os seguidores do candidato derrotado, mas opta pelo caminho oposto: a reconciliação, a união, a possibilidade do diálogo”. Quando Obama nasceu, os negros eram proibidos de usar os mesmos bebedouros públicos dos brancos e obrigados a dar lugar aos brancos nos ônibus. Por isso, essa vitória é também de Martin Luther King, o líder cristão que praticava a não-violência e a desobediência civil para com leis injustas, e Rosa Parks, a mulher negra que não levantou para dar seu assento a um homem branco e foi presa. Mas o dia 4 de novembro de 2008 torna-se histórico porque estabelec

Todas as músicas do mundo

O que é música? Para dois músicos do filme Todas as Manhãs do Mundo , a música tem um valor diametralmente oposto. Sainte-Colombe é um mestre na arte de tocar viola da gamba. Admirado pela corte francesa do século XVII, Sainte-Colombe, após a súbita morte da esposa, torna-se um recluso quase intratável, um homem rude, mas dotado de transbordante criatividade. Passa a tocar solitariamente e dá aulas apenas para suas duas filhas. Resistindo às tentações da corte, ele reage asperamente: “Prefiro minhas roupas de pano às vossas perucas da moda. Prefiro as minhas galinhas aos violinos do rei” . O outro músico é Marin Marais, jovem que procura o mestre Sainte-Colombe com a intenção de ser seu discípulo musical. A relação entre eles será sempre tempestuosa. O talento, a dedicação e a visão de mundo de ambos os músicos estará separada por um abismo de consagração: o aluno quer exibir-se para a corte, o mestre quer tão-somente tocar música. Sainte-Colombe: “Jovem senhor, vós fazeis música. Mas