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Mostrando postagens de janeiro, 2009

o cristianismo positivo

Sobre o texto “ateístas, graças a Deus” , um leitor atento comentou que me preocupei mais em rascunhar as ações negativas ligadas à expressão “aproveitar a vida” (uma frase que constava naquele cartaz que anda de ônibus em Londres). Parece que descambei para a crítica de atividades mundanas que os sóbrios humanistas também rejeitaram. Percebendo, então, que a bebedeira, a micareta e a Britney Spears são também pedra de escândalo para agnósticos e ateus, vou rabiscar o que seriam algumas das ações positivas desse mundo velho com porteira e câmera de vigilância. Vou tratar apenas do mundo da arte e da literatura. Mas antes é preciso saber de que cristão vou falar. Sim, porque há quem se diga cristão não-praticante (infelizmente, o censo aponta que sua maioria é composta de católicos. E veja que ninguém se diz pentecostal não-praticante ou espírita não-praticante). O católico não-praticante é algo como o torcedor de um time de futebol do interior que só vai ao estádio quando vem um time d

o concerto e o concerto de obama

A música para cerimônias oficiais de celebração costuma ser aquela que confere muita pompa para determinada circunstância. Geralmente bombástica, com o retumbar de tímpanos e uma fanfarra de metais que alardeiam uma nova era, uma sinfonia grandiloquente para a majestade que toma posse. Mas o que se ouviu na posse de Barack Obama esteve bem distante do tom festivo, cumprindo-se já a intenção do novo presidente. Foi assim o poema recitado por Elizabeth Alexander, Praise Song for the Day , sem versos laudatórios da personalidade de um homem, mas de estilo terno e reflexivo. Talvez até demais para o momento. Poderia ser diferente no concerto musical para o dia em que Obama começaria a selar um concerto político entre as nações, como muitos gostam de acreditar. O responsável pela música era John Williams, reconhecido compositor de trilhas sonoras. Dele se podia esperar o imprevisível. Da música triunfal, como em Guerra nas Estrelas , ao lúdico à la Henry Mancici, como em Prenda-me se for Ca

ateístas, graças a Deus

Pode ser qualquer dia, porque todo dia é dia de sair e irradiar a verdade. Eles vêm de dois em dois, irmanados num só ideal: o de falar do que descobriram. Eles batem na minha porta e me desejam bons dias e entregam panfletos e me perguntam da verdade e me dizem até mais ver e me deixam perdido em meus pensamentos. Não sou profeta nem filho de profeta, mas não vai tardar e os ateístas protagonizarão essas cenas. Tal e qual um evangelista que apregoa de porta em porta, eles irão até sua casa lhe anunciar as novas da inexistência de Deus. O IDE deles já circula nos ônibus londrinos (foto) : “Provavelmente não há Deus. Agora pare de se preocupar e aproveite a vida” . Faltou colocar que “agora seus problemas acabaram”. O avivamento ateísta já não dispensa nem as táticas evangelísticas de publicidade nos veículos e logradouros públicos. Mas o “provavelmente” da frase deixa o destinatário da mensagem um tanto confuso. Afinal, o transeunte pode parar na rua para elocubrar sobre a função desse

casa de vidro, vida de ficção

Dentro, eles vão de um lado para outro, fazem gracinhas, se exibem por todos os cantos. Fora, uma platéia acena, sorri das brincadeiras, se diverte e fotografa, mas não pode dar comida a quem está dentro. Cena de um domingo no zoológico? Na verdade, são 4 candidatos disputando uma vaga no concurso mais concorrido do início de cada ano: o de entrar na casa do Big Brother Brasil. Embora, se bem comparando, qual seria mesmo a diferença entre os gorilas do zoo e os concorrentes do BBB? Maíra, uma das duas distintas moçoilas disputantes diz, meio constragida: “É, me sinto como um macaquinho”. O constrangimento é menor do que a frase e ela logo volta ao seu papel de... bem, ela que disse! A jaula lhes permite ver quem está de fora, quem está fora acena pedindo uma gracinha, os de dentro respondem tirando parte da roupa, a malta se agita querendo ver o espetáculo dos homens ocos e das alegres comadres da casa de vidro. Tudo por um milhão? Ajuda, mas para eles basta a glória de aparecer, mãe,

música em tiras

Laerte.

assim na fé como na vida

Os problemas da África não podem ser resovidos só com ajudas financeiras, mas os africanos precisam conhecer a Deus, diz Matthew Parris, jornalista que se declara ateu no jornal britânico The Times . Ele afirma estar "convicto da enorme contribuição que o evangelismo cristão faz na África: bastante distinta do trabalho das ONGs seculares, projectos governamentais e esforços de ajuda internacional”. Nascido em Johannesburgo, África do Sul, e atualmente residindo na Inglaterra, Parris diz que “na África, o cristianismo muda o coração das pessoas. Ele produz uma transformação espiritual. O renascimento é real. A mudança é boa.” Quando esteve no Malawi, ele impressionou-se com o cristianismo de alguns membros da Pump Aid, uma instituição inglesa secular que trabalha com o saneamento da água dos poços das aldeias. “Estaria de acordo com os meus desejos, acreditar que a sua honestidade, diligência e optimismo no seu trabalho não tinham relação com a sua fé pessoal”, admite Parris. “O se

das preferências musicais e escolhas morais

Felicity Baker e William Bor publicaram alguns resultados de pesquisa sobre música e comportamento humano na revista Australasian Psychiatry (Agosto/2008, pp. 284-288) . Os pesquisadores buscaram estabelecer uma série de correlações entre escuta musical e atitudes ou práticas dos ouvintes, como: Os fãs de música pop teriam uma tendência à dúvida sexual, quem ouve dance music aumenta as chances de consumir drogas, os ouvintes de jazz tendem à solidão e teriam dificuldade de aceitação social. Pior ficou para os metaleiros, os ouvintes e “praticantes” de heavy metal e variações, que tendem a roubar, fazer sexo sem proteção, dirigir alcoolizado e sofrer de depressão que pode levar ao suicídio. Só faltou dizerem que as plantinhas crescem viçosas e felizes porque escutam música clássica. O objetivo da pesquisa, descrito no artigo, é perguntar se a música induz à ações sugeridas nas letras das canções ou se a preferência musical representa tendências de comportamento já existentes no indivídu

cem palavras: Gandhi e a questão judaico-palestina

A seção Cem Palavras, além de tosco trocadilho, é uma desculpa para transcrever as palavras de quem realmente sabe usá-las. Passo a vez para o Manifesto de Mahatma Gandhi (1869-1948) sobre a questão judaico-palestina: Harijan, em 26 de novembro de 1938. “Recebi muitas cartas solicitando a minha opinião sobre a questão judaico-palestina e sobre a perseguição aos judeus na Alemanha. Não é sem hesitação que ouso expor o meu ponto-de-vista. Na Alemanha as minhas simpatias estão todas com os judeus. Eu os conheci intimamente na África do Sul. Alguns deles se tornaram grandes amigos. Através destes amigos aprendi muito sobre as perseguições que sofreram. Eles têm sido os “intocáveis” do cristianismo; há um paralelo entre eles, e os “intocáveis” dos hindus. Sanções religiosas foram invocadas nos dois casos para justificar o tratamento dispensado a eles. Afora as amizades, há a mais universal razão para a minha simpatia pelos judeus. No entanto, a minha simpatia não me cega para a necessidade

o gospel e o melhor de dois mundos

Uma das frases mais conhecidas nas igrejas diz que o cristão “ESTÁ no mundo, mas não É do mundo”. O que para os críticos soa como esquizofrenia – o cristão seria alguém que vive numa quinta dimensão ou num mundo paralelo – e para alguns teóricos é uma anomalia – o que é isso que chamam de “mundo”, perguntam –, para os cristãos é uma convicção simples. “Mundo” não é entendido como local físico de habitação, onde eu leio jornal, assisto televisão e converso com o vizinho. “Mundo” são as práticas anti-cristãs da sociedade. Essa dicotomia separa o mundo que se degrada moralmente do restaurador reino de Deus. O que intelectuais conseguem complicar as mentes mais simples distinguem claramente. Enquanto os pensadores não entendem ou fingem não entender esse paradoxo, os cristãos fazem essa clivagem sem perplexidades. Ou pelo menos faziam. O que tem causado certo espanto no meio evangélico é a passagem de artistas gospel por dois mundos: o secular e o cristão. Em 2008, o grupo Artpella foi

a terra santa e os homens de má vontade

Imagine que sua família esteja morando num condomínio há três gerações. Imagine que, embora o espaço seja pequeno, sua família tenha que, de uma hora para outra, dividir o condomínio com um grupo de famílias que morava em outra cidade. Imagine, então, que as novas famílias recebam um grosso financiamento do governo. E que agora você e sua família tenham que sair de onde moram porque vocês não são dignos de habitar no condomínio dos ancestrais das novas famílias. Imagine que na parte do condomínio em que você mora não entra comida, remédios e roupas. Multiplique sua família por 1,5 milhões de pessoas. Esse é o número de pessoas enjauladas em Gaza, a maior prisão a céu aberto do mundo. Desde sua fundação arbitrária em 1948, o Estado de Israel jamais trabalhou pela paz ou teve boa vontade para com os palestinos. Ao contrário, acusa-se Israel de usar os meios mais vis para exterminar uma população inteira, para levar adiante um projeto que não pode ter outro nome a não ser o da limpeza ét

Meninos, eu ouvi

Meu apreço pela arte musical (desde a infância) e pela sétima arte (desde a pós-adolescência) é do tipo que leva a ler a respeito. Conhecer a história de músicos e suas músicos, como elaboravam suas obras, como a sociedade as recebia, tudo isso me levava a um outro patamar de conhecimento. Não superior, apenas mais abrangente. Com o cinema foi a mesma coisa. Eu queria entender o funcionamento de tudo aquilo, do roteiro à edição, da fotografia à cronologia. E claro, entender a música e sua função nos filmes. Por isso, não entendia como alguns colegas de faculdade ou professores de artes ou de música apreciavam a música brasileira ou americana mais sofisticada ao mesmo tempo em que preferiam os filmes de entretenimento mais simplório. Em poucas palavras, eles diziam apreciar as canções de Chico Buarque, Tom Jobim ou João Bosco, e revelavam preferência pela série Rocky e não gostavam de filmes em preto e branco. Compreendi que se tratava de uma simples questão de acesso. Eles desenvolver