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Mostrando postagens de fevereiro, 2009

um novo tom para a velha e feliz história

“O Senhor é minha força e minha melodia; ... Ele é o meu Deus, portanto, eu O louvarei; Ele é o Deus de meu pai, portanto, eu O exaltarei” . São os versos de Êxodo 15:2 que abrem o DVD Novo Tom Ao Vivo e servem de epígrafe para esta produção artística de excelência musical e religiosa. As músicas cantam a esperança de salvação que está no “meu Deus”, o Deus do presente, e no “Deus de meu pai”, o Deus da tradição. Esta velha e feliz tradição é recontada em linhas modernas e em arranjos contemporâneos. A primeira música, Tudo em Louvor , já anuncia o que será a tônica dessa produção: a triagem de gêneros musicais para alcançar novos formatos de comunicação do evangelho. Essa canção extrai do baião a alegria e a leve descontração, sem descambar para o folclorismo e a cópia ipsis litteris do estilo nordestino. Isso acontece porque o figurino dos cantores não é folclórico e nem a interpretação vocal repete trejeitos estereotipados do forrozeiro comum. Além disso, as notas da melodia dessa

a arte de ver

Por ocasião da morte do cineasta Ingmar Bergman (1918-2007), Paulo Coelho declarou, com o devido respeito, que “os filmes de Bergman eram chatíssimos” . Não se pode negar que quem estiver atrás de emoções em cascata, romances a granel e sensações em montanha-russa não as encontrará no cinema de contemplação de Bergman. Mas seguramente também não as achará nos livros de Paulo Coelho, nos quais não habita a literatura e nem a arte ali fez morada. É claro que o cinema sempre foi um grande negócio, mas houve quem transcendesse o simples comércio e entregasse ao espectador um produto de alta qualidade estética e vigor intelectual inconteste. Ou seja, mais que vender rostos bonitos e batidas de carros, ainda há diretores e roteiristas que sabem tirar leite de pedra, quer dizer, extrair arte do comércio. A idéia de cinema como entretenimento está presente desde o seu duplo berço na França, com os irmãos Lumière, e nos EUA, com Thomas Edison e sua turma (já andaram dizendo que o suor e até a

atrás do trio elétrico gospel

O primeiro mandamento do gospel nacional é: não há mandamentos. Não há regras. A música gospel já está parecendo uma final eterna do Ultimate Fight , um vale tudo cada vez mais liberado. Funciona mais ou menos assim: alguma mente bem-intencionada descobre que, para chegar junto da moçada de sensibilidade amortecida, é preciso usar as mesmas músicas que levam a galera à loucura, uhu, tira o pé do chão! Daí, meu bom, a parada é evangelizar com a unção do axé e do funk, bota pra ferver, brother! Até outro dia o povo andava esperando por milagre. A turma até pode estar esperando, mas não em pé, que em pé cansa. Nem sentado também. Enquanto a benção não vem, a turma sacode o esqueleto que crente não é de ferro, e uma micareta santificada não faz mal a ninguém, faz a dança do quaquito aê pra gente se animar, Aline Barros! (Please, Aline, você não, por favor). A controvérsia da vez é a cantora Jake e a canção Pó pará com pó . E como toda controvérsia em forma de música, já virou sucesso. A m

de coices e dribles

Qual a diferença entre cavalos bufando antes da largada e vinte e dois homens perfilados antes de uma partida de futebol? É que os cavalos não sabem cantar o Hino Nacional. A piada, para alguns, ofende a criatura humana. Se bem que, dependendo do jogo, a piada ofende os cavalos. Brasil e Itália entram em campo, perfilam-se respeitosamente, toca-se o hino pátrio, mão no peito, voz tímida, olhar tenso. Comecemos com o hino. No ano passado, ouvimos direto de Goiânia a interpretação de Zezé de Camargo do famoso “Ouviram do Ipiranga”, verso cuja única razão de existir parece ser a de servir de pegadinha em provas de português (quem é o sujeito? Ipiranga? As margens plácidas? Povo heróico?). Esquecendo que o cantor romântico, quando cantava as sílabas maiúsculas de “ó pátria aMAda, idolaTRAda”, desviava-se das notas certas, até que ele não se saiu mal. Nem sentiu falta do irmão Luciano. No jogo dessa terça-feira (10/02), uma fanfarra acelerou tanto o andamento do nosso hino que desafiava at

o caçador de pipas e lágrimas

Chorar assistindo a um filme não é demérito pra espectador algum. Quando um casal faz as pazes ou o filho retorna a casa ou uma comunidade saúda o herói e as lições edificantes ressoam tão alto quanto o volume da trilha sonora melosa, eis os sinais para lavar a alma e os olhos. Às vezes depende mais do estado de espírito do prezado espectador do que propriamente do melodrama da cena assistida. Há pessoas que, a certa altura da vida, estão com a sensibilidade tão à flor da retina que são capazes de chorar até durante um comercial de banco. Steven Spielberg é um desses profissionais da limpeza emocionada do globo ocular alheio. São raros os espectadores que mantêm a pose nas cenas mais dramáticas de A Cor Púrpura , no aperto de mão no final de A Lista de Schindler (que violino belíssimo, hein, John Williams?) ou na despedida do garoto Elliott e o E.T. (precisava aqueles metais e tímpanos tão altos, John Williams?). Românticas incuráveis de todas as épocas inundam os lencinhos na saga de

fábulas menores de moral mínima (opus 5)

Com a desculpa esfarrapada e descalça de que estou atribulado com o último capítulo da minha honorável dissertação, saquei do fundo do arquivo "meus documentos" essa pouco honorável fábula. Estudantes da graduação ou da pós, e não só eles, espero, vão entender as agruras. O menino, o velhaco e o burro – uma fábula revista e atualizada O menino universitário, após uma longa temporada à sombra das raparigas em flor nada proustianas mas em tudo calypseiras, decide que já é hora de crescer e deixar essa vida cruel de passar a semana afogado em números e letras e o fim-de-semana afogado em anônimos beijos atrás do trio elétrico. Mas, esse guerreiro-menino não sairá do templo do saber assim impunemente. Primeiro, é preciso mostrar que aprendeu alguma coisa de útil na vida. É preciso entregar, troçus terribilis , sua monografia. Seu destino acadêmico é: pague para entrar, entregue uma monografia para sair. Não, não, reza braba não dá jeito, o cabra pode ser valente, mas só na

os brutos também pensam

Jornalistas e teóricos do evolucionismo, uma gente dotada de brilhantismo e bons postos de observação nos periódicos, têm obstinadamente alertado os cidadãos dos males da religião. Concentram-se nas caricaturas de um cristianismo barulhento e pernóstico e na beligerância totalitária de povos muçulmanos. Demonstram como dois e dois é igual a um ancestral comum a nadar no caldo amniótico de uma terra primitiva e sair para o vestibular da seleção natural. Isso é ciência, escrevem. E para que discordar, quando apregoam as boas novas de um mundo melhor sem religião, sem Deus? E como discordar, se aos intelectuais neo-pós-darwinianos franqueia-se a palavra e aos cristãos acadêmicos concede-se o silêncio (ou a seção de cartas do leitor, que é a mesma coisa)? Às vezes, submergem suas páginas no fotolito do rancor e do preconceito que costumam atribuir aos crentes. Não é difícil notar que esse furor tem uma face anticristã, já que a mesma verve crítica raramente é destilada contra o espirituali