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Mostrando postagens de abril, 2009

existe o "melhor" cantor cristão?

O Troféu Talento é uma premiação anual concedida pelo meio evangélico (músicos, produtores, ouvintes) aos "melhores do ano" na música gospel brasileira. Algo semelhante ao Dove Awards (prêmio evangélico americano), que já é inspirado no Grammy (prêmio da indústria fonográfica dos EUA). Estabelecer uma competição entre os cantores e aficionados seria algo "religiosamente" correto? Ou, no mínimo, seria realmente necessário um prêmio aos "melhores"? Isso tem a ver com a urgência do evangelho ou com as premências do mercado? Criado em 1996, pela Rede Aleluia, o prêmio conta com a interatividade por meio da participação votante do público por telefone e pela internet. Para Samuel Modesto, coordenador do Troféu Talento 2008, a premiação dos melhores da música gospel é uma forma de reconhecer “o talento que Deus dá aos adoradores e cantores; é um reconhecimento ministerial e profissional” ( Backstage , ed. 164). Esse entrelaçamento da atividade musical religiosa

o pior cego é aquele que quer veja

O Scienceblogs publicou o e-mail que Ricardo Vêncio, do Laboratório de Processamento de Informação Biológica da USP Ribeirão, enviou à redação da revista Veja a respeito de um infográfico incluído na reportagem "Um gene, várias doenças" (22/04/09) . Se biologia não era sua matéria preferida na escola, não tem problema. Pior do que as falhas no infográfico foi a resposta arrogante da revista ao leitor. Primeiro, o e-mail de Ricardo Venâncio à revista: Caros da Veja, Apesar do texto da reportagem sobre Genética da última edição estar muito bom, incluindo até conceitos da emergente Biologia Sistêmica, a figura que mostra a sequência: "célula - DNA - gene" induz o leitor a erros conceituais graves: 1) A interação entre as duas fitas da hélice de DNA está ilustrada como algumas bolinhas em seqüencia, dando a impressão que são átomos, partículas ou coisa que o valha. Essas ligações são chamadas "pontes de hidrogênio" e, na verdade, são atrações entre átomos q

entre os muros da escola

A maioria dos filmes sobre a questão escolar sempre amarra as pontas no final da história. A diretora vilã é humilhada, os alunos incorrigíveis se tornam grandes amantes de literatura e música, o professor que supera todos os desafios ou é transferido ou demitido ou tem sua vida pessoal abalada… Ponha no mesmo pacote: Ao mestre com carinho , Sociedade dos poetas mortos , Conrack , Mr. Holland - adorável professor , Escritores da liberdade etc. Estes filmes têm suas qualidades e defeitos em graus variados mas todos incorrem na romantização da vida escolar. Entre os Muros da Escola reabre a discussão em outro patamar: sem lágrimas, sem musiquinha para emocionar, sem sonhos realizados no final. Afinal, o diretor não é o Augusto Cury. Pode parecer pessimista ou até niilista. Mas o filme não nos entretém com uma historinha idealizada da relação professor-aluno, não nos tenta convencer da existência de um professor que tudo espera e suporta, não nos dá respostas prontas, não força nossa ad

o mundo e a fé

"Mundo" não são pessoas. São ações e valores imorais, amorais e egoístas. Cristãos, dos mais simples aos mais eruditos, convivem diariamente com pessoas não-cristãs (no trabalho, na rua, em casa, veem na tv) e sabem que, entre estas, existem pessoas de grande caráter e nobreza de alma. Isso vem desde muito tempo. Não por acaso, Jesus curava pessoas tidas como pagãs por muitos judeus e ainda acrescentava: "Nem em Israel vi tamanha fé". Se alguém perguntar "não existem pessoas boas fora da igreja?" para um pastor ou para a vovó Maria, é provável que ambos digam que pessoas boas e más existem em todo lugar. Minha vó acrescentará, com sua fé simples e sem maiores digressões metafísicas, que é bem capaz que existam mais pessoas realmente boas fora da igreja do que dentro (mas de forma alguma recomendará para que alguém abandone a fé, a igreja, por causa disso). Claro que alguns não sabem externar um pensamento mais equilibrado e acabam criando um apartheid espi

outra leitura

O site Outra Leitura , recém chegado à rede, reúne vinte pessoas que escrevem semanalmente sobre áreas bem diversas: de razões para crer à questões de confiança, de gramática à saúde, de notícias comentadas à papo psicológico, de mídia à teologia, assim por diante (estou lá com a coluna Cultura Afinada - por enquanto com textos já cometidos por aqui). A seguir, um texto de Douglas Reis sobre os contrastes entre a ética dos 10 mandamentos bíblicos e a ideologia relativista do pensamento pós-moderno. Boa outra leitura! 1º Mandamento: "Não terás outros deuses diante de mim" : cada qual pode ter quantos deuses quiser, desde que respeite os deuses alheios, e que a divindade eleita seja inserida em seu contexto comunitário; nenhum deus será imposto a outrem, porque a tolerância é um valor preponderante, a tal ponto de impedir que se faça julgamentos morais. No fim das contas, cada indivíduo acaba servindo não a um deus, mas fazendo uso das divindades disponíveis no mercado religio

a Paixão segundo mel gibson

Desde seu lançamento, em 2004, A Paixão de Cristo , é um dos filmes que mais tem emocionado o público cristão e dividido a plateia. Teria o diretor, o católico Mel Gibson, exagerado nas cenas de violência impostas a Jesus ou o realismo sanguinolento do filme contribui para comover a sensibilidade moderna? A estilização promovida pelo jogo de iluminação e enquadramento está a serviço do antissemitismo ou está contando uma velha e tocante história com a linguagem de hoje? As cenas filmadas que desfiguram o corpo de Jesus são brutais e incômodas. A plateia atual, espremida entre a violência crua dos telejornais e a barbárie dos filmes de ação, se mostra cada vez menos sensível à brutalidade, o que gera um aumento de violência nas encenações cinematográficas, que por sua vez dessensibiliza ainda mais as plateias, o que leva os cineastas a aumentar o teor de crueldade nos filmes. Não é um círculo. É uma progressão escalar. Se os filmes clássicos sobre a vida de Jesus ofereciam um retrat

o ataque dos sapatos risíveis

No momento em que o mundo atravessa grandes dificuldades, sempre surge um engraçadinho pra tirar a gente do sério. As bolsas de valores vivendo numa gangorra, o Evo Morales prendendo nosso gás, o MEC querendo mudar a forma do vestibular e, de repente, vem a notícia de mais um franco-atirador de sapatos. Dessa vez, o arremessador é um jornalista da Índia e o alvo era o ministro do Interior daquele país. Não faz tempo o ex-presidente dos EUA, George W. Bush, e o primeiro-ministro do Japão, Wen Jiabao já tinham sido alvejados. Atirar sapatos em alguém é um insulto tanto no Iraque quanto na Índia. Mas errar o alvo de tão perto é um insulto à habilidade motora do ser humano. Ainda piora porque o quase-atingido fica todo pimpão ao escapar se contorcendo no estilo Matrix e soltar uma piadinha tipo Mel Gibson depois do perigo. Das duas, uma: ou os políticos têm um sentido apurado digno dos X-Men – pressentem o perigo e desviam-se de objetos voadores – ou os jornalistas precisam treinar mais a

cem palavras: os homens menos sábios

Não é de hoje que nossa geração é intitulada "a menos sábia de todas as épocas". O novo século ainda nem completou uma década mas parecemos nos orgulhar de termos cada vez mais informação, menos conhecimento e nenhuma sabedoria. Escalamos um Himalaia de assuntos e novidades enquanto nem subimos uma colina de reflexão sobre o que estamos aprendendo. Aliás, estamos de fato aprendendo ou só estamos acumulando símbolos, sons e imagens ininterruptas que são facilmente trocáveis? Será que, de tanto vagarmos como metamorfoses ambulantes, arrastados como caniços por qualquer brisa de doutrina insana, não estamos desacreditando as velhas opiniões formadas sobre tudo? Essas velhas opiniões não poderiam servir às vezes de peneira a fim de coar, de joeirar o caldo grosso de tudo que lemos, vemos, ouvimos e procuramos? “[No início dos tempos] era a fome que trazia a morte; agora, ao contrário, é a abundância que nos destrói. Naquela época, os homens muitas vezes ingeriam veneno por ignorâ

das tradições na música sacra

Em 2003, o coral jovem do qual eu era o regente foi cantar em uma igreja evangélica. Chegamos cedo, passamos o som e ficamos à espera do início da programação. Nos avisaram que, antes de cantarmos, haveria um momento de louvor com uma banda daquela igreja. Um a um, os jovens músicos começaram a passar seus instrumentos. O sonoplasta pediu: “Faz uma levada aí”. O baterista se aprumou, fez uma virada espetacular e começou sua levada: um axé-pop incansável. Em seguida, o baixista executou todas as lições de slap que aprendeu na vídeo-aula do Arthur Maia. Alguns membros da igreja, os de mais idade, já estavam ali e me olharam para ver minha reação. Fiz aquela cara de quem encontrou Jesus de “um jeito diferente que é tão normal” e sorri como quem acredita que o importante é que “esses moços pobres moços” estão tocando na igreja e falando a sua própria língua. Durante os momentos de louvor fui percebendo o quanto as letras das canções jovens (de pentecostais, protestantes e católicos) foram

maurice jarre: compositor do épico étnico

Maurice Jarre (1924-2009) talvez não tenha sido em vida o melhor compositor francês de música para cinema. Michel Legrand e George Delerue foram mais inventivos, mas Maurice Jarre certamente compôs temas mais inesquecíveis. Ajuda também o fato de que Jarre trabalhou muito em filmes ingleses e americanos, em épicos de ação e romance, o que deixa seu legado musical bem mais notório do que as intimistas produções de seus compatriotas músicos. Ainda na França, nos anos 50, Maurice Jarre se dedicou a estudar a música considerada étnica, ou seja, aquela que, por não ser europeia nem norte-americana, as academias relegam para o limbo das matérias opcionais. Esses estudos devem ter auxiliado o músico francês durante a elaboração das partituras dos filmes em que trabalhou. Principalmente naqueles em que foi parceiro do cineasta David Lean. Sua trilha mais famosa é a que gerou mais controvérsia. Por Doutor Jivago (1965), o último épico romântico em que adultos formam o par central, Jarre foi cr