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Mostrando postagens de junho, 2009

volta ao mundo em cinco notas

Revolucionários e feministas, tremei! Desta vez, a luta é pela liberdade na indumentária feminina, nova bandeira do presidente Nicholas Sarkozy. Confira aqui . Agora a França estuda a proibição da burca das mulheres muçulmanas. Aqui de longe, esse vestuário parece mesmo imposição de macho-dominador-universal, mas será que, além dos ideais revolucionários, todo imigrante tem que assimilar outros baluartes da tradição francesa como a proibição do uso de nomes próprios em inglês, do desodorante e do banho diário? Caros jornalistas, tende piedade daqueles a quem investigais! É só reparar o estado da peruca do ex-diretor do Senado Alexandre Gazineo quando ele teve que deixar o cargo pra ver que nem todo mundo reage bem à publicação de um “ato secreto”. Segundo correligionários de José Sarney, a conquista da seleção brasileira em terras d’além-mar deve inspirar um novo e autobiográfico romance do escritor-senador. Disseram que é só elevar ao cubo o número de vinte e três jogadores mais comi

a música mais triste do mundo

"O rei do pop está morto". É assim que têm começado as notícias sobre a morte do cantor Michael Jackson, um astro da música cujo talento e carisma absolutos têm contrapartda em sua vida demasiadamente tumultuada. Para referir-se à Michael Jackson, o recurso da hipérbole é usual: a criança mais afinada da história da música popular, o disco de black music mais vendido ( Off the Wall ), o intérprete - e às vezes compositor - com mais canções que alcançaram o topo da parada pop (41 canções), o primeiro artista a colocar cinco canções de um mesmo álbum ( Bad ) em primeiro lugar, o cantor do videoclipe mais caro, o autor do álbum mais vendido (Thriller , com supostas 100 milhões de cópias vendidas, que rendeu ao cantor 94 prêmios), o promotor (inventor?) do passo de dança mais célebre - moonwalk , aquele em que se anda deslizando de costas, o artista mais bem pago da história, enfim, dono de tantos atributos de composição, voz e dança que lhe alcunharam de Rei do Pop. Por outro la

Batman quer ser Macbeth

Os super-heróis estão cada vez mais super-humanos. Em um passado não tão distante, Superman, Batman e Homem-Aranha eram seres mais preocupados em estragar os planos do vilão do que com a ética de suas próprias ações, mais ocupados em proteger a dupla identidade do que em debater-se com a esquizofrenia de sua dupla face. Agora, os heróis estão mais próximos das desilusões e traumas humanos. O componente psicológico, mais do que o físico, dita as aventuras menos super e mais dark . O Superman não está mais naquele patamar inquestionável de protetor da humanidade. O Homem-Aranha se divide entre as grandes responsabilidades advindas de grandes poderes e o simples desejo de agradar a moça a quem ama. Batman é um incompreendido que vaga noite adentro movido mais pela vingança do que pela justiça. Nem as animações escaparam à sanha psico-humanizadora dos roteiristas da moda em Roliúdi. Em Os Incríveis , a família de ex-super-heróis aprende que, tão difícil quanto salvar o mundo, é salvar o ca

cem palavras: a feiura do ódio

O cristianismo é uma religião de amor tão radical que não apenas recomenda aos seguidores para que amem a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmo. É preciso, ainda, que amemos os inimigos e oremos pelos que nos perseguem. Pra muita gente já é difícil corresponder ao amor alheio, imagine então amar quem nos odeia, querer bem a quem preferiria que nem existíssemos. A sabedoria bíblica já disse por outros versos o que você lerá na citação mais abaixo: que o coração alegre aformoseia o rosto, que a tristeza faz secar os ossos, que a palavra branda desvia o curso da ira, e outros conselhos simples e necessários. Às vezes, parece que é preciso que outros digam a mesma coisa, mas de outra maneira, para que se repense o modo de relacionar-se consigo e com os outros seres humanos: “Uma vez, na televisão, o Miguel Sousa Tavares perguntou-me porque é que eu não tinha inimigos. Eu respondi que um inimigo dá muito trabalho. Quando nas andanças da vida, alguém é desagradável comigo,

o consumo de gente

É difícil não concordar com o pensador francês Guy Lipovetsky quando ele diz que vivemos no Império do Efêmero. Homens e mulheres, deslumbrados com o milagre publicitário que promove a multiplicação das marcas, compram produto X, sonham com Y e acordam querendo Z. Da noite pro dia, já trocaram de sonho de consumo. Se este sonho de consumo é um sapato, uma bolsa, um carro ou uma namorada, isso já nem importa. Como se estivessem assistindo a um interminável programa, usam o controle remoto para trocar de canal e de vida. Ah, enjoei desse celular que comprei ontem. Oh, cansei dessa aula sem computador na sala. Não, não posso mais ser visto dirigindo essa “carroça” importada. Sim, serei feliz e bonita e magra e admirada como aquela moça da propaganda de xampu. De forma consciente ou não, são caprichos alimentados diuturnamente, são vontades que precisam ser saciadas ants que o tempo se vá. A rapidez com que vão surgindo as inovações tecnológicas aliada ao planejamento industrial de envelh

uma música hoje

Para começar bem a semana, audioveja esta ária da cantata BWV 30, de Johann Sebastian Bach. Extraída do bônus do DVD Bach Arias , a ária foi filmada como um ensaio dirigido pelo próprio Bach. A bela voz é de Magdalena Kozená, meio-soprano tcheca. A cantata BWV 30 foi composta em 1738 para a Festa de São João Batista. Quem ouve a música e lê o texto (provavelmente de autoria de Picander, baseado em passagens bíblicas sobre o nascimento de João Batista), sente-se enlevado pela sacralidade da obra. No entanto, esta cantata é uma versão religiosa da cantata profana "Angenehmes Wiederau, freue dich in deinem auen" (BWV 30a), uma espécie de homenagem de Bach à beleza dos arredores de um castelo em Wiederau. O caráter alegre da música sublinha a temática geral da obra, que representa a evocação de Zacarias, pai de João Batista, e também reflete a influência estilística das gerações mais jovens que o maduro Bach não dispensava. O ritmo sincopado da ária acima e o décimo movimento, n

eu e você, eu sem você

Por que tem gente que só consegue dizer "eu te amo" se for através da letra de um poema alheio? Qual é a dificuldade de dizer que você sem ela é pouco menos que nada? Acreditem, meninas: toda dificuldade é pouca. Séculos de reticências na hora da declaração criaram uma injustificável incapacidade masculina de dizer "eu te amo". A língua trava, o rapaz esquece essas três palavrinhas mágicas e o momento perfeito se vai. Ó varões renitentes, até quando evitareis os olhos de quem vos ama? Então, não tenha medo de parecer brega - ok, não a ponto de mandar flores para o escritório dela (as amigas dela vão fingir que a-m-a-r-a-m) ou de contratar um fatídico carro-som com aquela voz de locutora de aeroporto lendo um cartão romântico de 1,99. Pensando bem, tenha muito medo de parecer brega. Melhor conhecer o gosto pessoal da amada. Consulte uma amiga dela. Ah, sim. Uma amiga que também goste de você. E, importante, uma amiga que gostaria que ela gostasse de você. Cas

cem palavras: 4 possibilidades

A seção "Cem Palavras" volta hoje. Escolhi um texto de Ed Renê Kivitz. Tenho cá minhas restrições quanto à "imanência" como única possibilidade de encontro com o divino, principalmente devido ao extremismo que provém da compreensão de um Deus imanente-dentro-da-gente. Sou atraído pelo ponto de tensão entre transcendência e imanência na relação homem-divindade. Mas para refletir a partir de um texto como esse não é preciso concordar com todas as suas vírgulas. Continue lendo: "Acabo de ler O espírito do ateísmo , onde André Comte-Sponville propõe uma espiritualidade para ateus, isto é, uma metafísica sem Deus, e demonstra uma sobriedade ausente entre os recentes “religiofóbicos”, como Richard Dawkins, Michel Onfray e Christopher Hitchens. Ao final de sua argumentação, conta que na adolescência, após ler o Eclesiastes, escreveu no caderno de notas: “Das duas uma. Ou Deus existe, e então nada tem importância. Ou Deus não existe, e então nada tem importância”. Na v

o jogador pródigo

O saber popular nos avisa que fama e fortuna não trazem felicidade. Por outro lado, ser um anônimo na miséria não faz ninguém feliz. E em nossos tempos de celebridade, pior que não ter dinheiro é não ser reconhecido na rua. O poeta dizia que tristeza não tem fim, felicidade sim . Comparava, então, a felicidade com a pluma que o vento vai levando pelo ar; voa tão leve, mas tem a vida breve, precisa que haja vento sem parar . O gol é o instantâneo do futebol. Dura menos que um segundo, e sua comemoração, pouco mais que um minuto. A sensação se vai e o artilheiro será cobrado assim que perder aquele outro gol que parecia tão fácil de fazer. O gol é leve, mas a alegria que ele traz é breve. Crianças dão um tempo da boneca, da pipa e do videogame pra brincar de ser artilheiro. Alguns enfrentarão dolorosas peneiras, cheios de sonhos de ser Ronaldinhos, Patinhos e Martinhas da vida. O problema é que é mais fácil um cartola ir pro céu do que centenas de garotos entrarem na fábrica de craques e

a música brasileira de luto

Entre os passageiros do voo AF 477 da Air France que tragicamente desapareceu sobre o Atlântico estava o maestro Silvio Barbato. Ele foi responsável pela trilha sonora do filme Villa-Lobos - Uma Vida de Paixão e, nos últimos anos, vinha dedicando-se mais à composição que à regência. Estreou duas óperas: O Cientista , inspirada na vida de Oswaldo Cruz, e Chagas , baseada na vida de Carlos Chagas. Conhecido pelo temperamento forte, já tinha joãogilbertianamente enfrentado um público que ensaiava uma vaia por causa de um concerto que demorava a começar. Fora do palco, era um flamenguista que apreciava o surf e a culinária. A revista Concerto informa que Silvio Barbato estudou composição e regência com Claudio Santoro, cujas sinfonias mereceram edições de análise crítica de Barbato. "Formou-se depois no Conservatório Giuseppe Verdi, em Milão, onde recebeu o Diploma de Alta Composição na classe de Azio Corghi. Ainda na Itália freqüentou a classe de Franco Ferrara, colaborando com o ma