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Mostrando postagens de julho, 2009

a mais incrível aventura da família

Melhor do que um filme para a família é o ato de uma família assistir junto a um filme apropriado. Rir, emocionar-se, entreolhar-se, compreender a mensagem. Particularmente, não sou entusiasta de filmes com “mensagens edificantes”. Não por causa do tema e da importância real da mensagem. O problema, em geral, é a forma canhestra de realização utilizada que atrapalha a comunicação: diálogos do pior dramalhão, enquadramentos primários, atuações medíocres. Dá a impressão de que deixaram o Clube das Mães tomar conta da câmera enquanto o diretor está negociando seu próximo filme edificante para as massas. Falando nisso, a produtora Pixar tem sido uma mãe para os espectadores, mas sem esquecer o apuro técnico e a excelência da narrativa. Não é difícil perceber que seus filmes não pertencem ao entulho que Roliúdi despeja desavergonhadamente sobre o mundo. Em seus filmes-família, o tema central é quase sempre, claro, a família, sendo que os roteiristas da Pixar estão atentos às diferentes con

ensaio sobre a visão

Certo dia, sem mais nem menos, pessoas começam a ficar cegas. Submetidas à convivência forçada, elas experimentam não apenas as agruras da escuridão visual, mas passam a vivenciar a cegueira da razão e do amor, quando aumentam as disputas pelo poder e subtraem-se a tolerância e o senso de partilha. Este é o ponto de partida do livro Ensaio sobre a Cegueira , do português José Saramago (também filme de Fernando Meirelles). Na história, apenas uma mulher conserva a visão, e é ela que servirá de guia para a turba de cegos; é ela que será vítima resignada, junto com as mulheres cegas, da torpeza moral masculina; é ela que terá a chance de retirar os cativos de uma espécie de caverna de Platão, dirigindo os outros e a si para a luz. Alguns destes perceberão que, mesmo quando eram capazes de ver, nunca souberam enxergar. Só agora, quando nada vêem é que, na verdade, podem realmente enxergar que são todos seres desgraçados e precisam uns dos outros e de alguém que conheça o caminho da luz. Es

o homem que sonhava com a lua

Há 40 anos, a humanidade, representada por três navegantes, chegava à Lua da mesma forma que o europeu chegava à América. No lugar das caravelas Pinta, Ninã e Santa Maria, agora a nave espacial Apollo 11. Sai Colombo e entra Neil Armstrong, em vez do império ibérico, o império norte-americano. As testemunhas não eram mais os índios nativos, mas o embasbacamento de milhares de espectadores diante da transmissão ao vivo pela TV era semelhante. A carta de intenções também era igual: no século XV, a Espanha precisava aumentar o mercado e vencer a concorrência; no século XX, os Estados Unidos necessitavam vencer a concorrência e aumentar o mercado. Venceu a concorrência soviética de tal forma que até o mero termo "soviético" caiu em total desuso. Eu sonhava com a lua. Não como os poetas sonhavam - ainda há poetas que sonham com a lua? Minha lua era a do livrinho infantil que contava como na Lua tudo era pelo avesso. Inclusive os letreiros que anunciavam SETEVROS geladinhos. Depoi

veste a camisa, kaká

Num dia ele rejeita uma proposta financeira indecente para jogar na Inglaterra e recebe o afeto que se encerra no peito juvenil do torcedor do Milan. Noutro dia ele já é o novo ídolo dos torcedores do Real Madrid. O que aconteceu? Kaká não foi para a Inglaterra porque a proposta vinha do glorioso Manchester City, time que tirou Robinho das vistosas confusões madrilenas e o lançou a dois passos da obscuridade. Não era o dinheiro, meus caros. O obstáculo era o timeco inglês sem chances de estrelato. O galático Real acaba sendo bom pra todo mundo: tira o time milanês de Silvio Berlusconi do buraco das dívidas, dá a Kaká a chance de mudar de ares e voltar a ser o melhor do mundo e ajuda o clube espanhol a atrair patrocínio, vender camisas e faturar com amistosos na Ásia. Num dia ele se reserva o direito de não expor a vida privada no ralo público no noticiário das fofocas. Noutro dia estampa-se o primeiro aniversário do filhote debutando nas páginas das revistas de salão. O que aconteceu?

sigam-me os bons

Amigo leitor, amiga leitora: os números têm força, acabei de comprovar. Semanas atrás decidi inserir o link "amigos do blog" na coluna ao lado. É uma ferramenta nova e mal sei como usá-la. Acontece que, hoje, ao abrir esta página, me deparei com um número que seria natural se não fosse incômodo. O número é o 12. Se esta fosse a quantidade de leitores desse blog, eu não me incomodaria. Hum, me incomodaria, sim. Deixemos de modéstias incoerentes. No entanto, quando doze é o número de "seguidores" inscritos no blog, aí eu tenho medo. O que vão dizer por aí? Que eu tenho doze seguidores? Veja que esse número é forte demais. Não sou o Zagallo, mas se chegar a treze, cai melhor do que doze. Ou não? Agradeço aos bravos que me acompanham até aqui. Uma página virtual em branco pode assustar tanto quanto a página de papel em branco. Começar é o mais difícil, porque assuntos há aos montes. Que valham a pena repartir com os amigos, aí é outra história. Aproveito para indicar o

cem palavras: a fé e a esperança

A fé, no sentido em que estou usando a palavra, é a arte de se aferrar, apesar das mudanças de humor, àquilo que a razão já aceitou. Pois o humor sempre há de mudar, qualquer que seja o ponto de vista da razão. Agora que sou cristão, há dias em que tudo na religião parece muito improvável. Quando eu era ateu, porém, passava por fases em que o cristianismo parecia probabilíssimo. A rebelião dos humores contra o nosso eu verdadeiro virá de um jeito ou de outro. E por isso que a fé é uma virtude tão necessária: se não colocar os humores em seu devido lugar, você não poderá jamais ser um cristão firme ou mesmo um ateu firme; será apenas uma criatura hesitante, cujas crenças dependem, na verdade, da qualidade do clima ou da sua digestão naquele dia. Conseqüentemente, temos de formar o hábito da fé. A esperança é uma das virtudes teológicas. Isso quer dizer que (ao contrário do que o homem moderno pensa) o anseio contínuo pelo mundo eterno não é uma forma de escapismo ou de auto-ilusão, mas

música e adoração: experiência e obediência

Não é difícil perceber que o debate em torno da música sacra tem tomado duas vertentes bem dicotômicas: ou é isso ou é aquilo, esse instrumento pode vs. aquele não pode, o gosto “jovem” vs. o gosto “maduro”, o clássico vs. o contemporâneo. Insisto em dizer, todavia, que o problema não é a música nem o instrumento nem a dinâmica mutante da cultura musical. A discussão não deveria estar situada na oposição entre os pólos. Aliás, essa é uma oposição em que as opiniões pré-formadas de ambos os lados tem somente eclipsado o que deveria estar no centro do debate: o referencial bíblico que estabelece a adoração. Eu disse, referenciais de adoração , e não princípios musicais. Não há regras de elaboração musical da Antiguidade que devam ser obedecidas hoje. Há, de fato, princípios centrais teológicos que podem orientar o modo de adoração. Sem um modelo biblicamente referenciado, corremos o risco de produzir uma música de louvor desarticulada e orientada por tendências culturais, pela última mod

ocupado em palestras

Nesse fim de semana, estarei no Encontro de Músicos da Associação Sul-Paranaense (ASP) realizando duas palestras (o que tem me impedido de atualizar o blog nos dois ultimos dias): Música no Culto: doxologia, adoração, mensagem - sobre elementos musicais apropriados para as atividades musicais que fazem parte da programação do culto. Os tópicos relacionados são: o processo inicial antes da pregação pastoral que inclui música para a entrada das pessoas que comporão a plataforma, música para o ofertório e para o louvor congregacional; foi me pedido especialmente para falar sobre a música para os momentos finais do sermão. O Uso dos Instrumentos na História do Cristianismo - vou apontar os registros históricos que falam da música no culto cristão primitivo, na Reforma Protestante, nos movimentos avivalistas norte-americanos e na igreja adventista do sétimo dia. Claro que metade da palestra será dedicada aos instrumentos de percussão nas igrejas. Nesse item, vou destacar alguns mitos que tê

os reis do rock e o cristianismo

O cristianismo é um dos fundamentos mais visíveis da construção da sociedade norte-americana. Desde os “Pais Fundadores” até os apelos de George W. Bush e Barack Obama à mentalidade religiosa da maioria da população, as políticas públicas ali têm sido implementadas tendo em vista determinados valores cristãos. A música pop não estaria totalmente alheia a algumas formas bem heterodoxas do pensamento cristão. Religião e cultura pop no mesmo caldo? No caso da música popular, mais que todas as outras variantes doutrinárias do cristianismo, o pentecostalismo repercutiu na carreira de muito astro pop antes, durante e depois da fama. E por que o pentecostalismo? De forma bem resumida, pode-se dizer que fatores como a maior liberdade de expressões físicas e espirituais na adoração e a característica de ritual catártico manifesto nos cultos pentecostais favoreceram tanto a consolidação do gospel na religião (entre 1920-1940) quanto na indústria pop (entre 1950-1970). Ou seja, se por um lad