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Mostrando postagens de 2010

meninos, eu vi (e você também)

2010: um ano para recordar ou para esquecer? Na dúvida, cometi um pequeno dicionário de termos e eventos do ano. Ora, se o Fiuk pode ser cantor e ator, por que eu não posso ser enciclopedista? Aí vai: Política José Serra : É pau? É pedra? É bolinha de papel? Só sei que eleição no Brasil é o fim do caminho. PAC : Lula foi o PACman e as obras são um PACderme. Mundo WikiLeaks : o estraga-prazeres do amigo secreto da diplomacia internacional. Berlusconi : é olhar pra ele que a gente se conforma com o Lula. Esporte Barrichello, Massa : os últimos serão os terceiros (e quartos, quintos...) Seleção sul-africana : Bafana Bafana Seleção espanhola : Bacana Bacana Seleção brasileira : Banana Banana Saúde José Alencar : a resiliência encontrou um sinônimo Oscar Niemeyer : o homem que olha para Chico Anysio e José Sarney no hospital e pensa: "Esses jovens de hoje..." Celebridade George Bush lançou um livro, Vera Fischer lançou um livro, Geisy Arruda lançou um livro: e

10 artistas em 10 anos: música cristã brasileira

Em dez anos, a música cristã brasileira, ou a música praticada por cristãos no Brasil, diversificou-se bastante: gêneros musicais regionais e estilos globalizados, performances cantadas, gritadas e choradas, refrões simples e intermináveis, letras densas e extensas. O combalido mercado fonográfico secular cresceu o olho e enxergou mais uma alternativa de lucro. Os artistas cristãos aproveitaram o convite e estenderam sua voz e sua mensagem até aonde ninguém ainda havia chegado, às vezes com padrões de atitude que nem todo mundo aceita. Alguns deles mereceram ouvir a música “É proibido pensar”, de João Alexandre, uma franca e corajosa crítica à mercantilização da fé e da canção religiosa. Essa é uma lista de dez nomes representativos do começo do século. Aline Barros Unção, milagre, “apaixonada” por Jesus: sua carreira foi redirecionada das canções já clássicas de Célia Held para as temáticas claramente neopentecostais. Embora os números de vendagem não sejam contabilizados oficialmen

o natal dos trópicos

Leonardo Martinelli conta o natal musical: Apesar de todo aspecto invernal associado à imagem mundial do Natal – neve, pinheirinhos, trenós e toda uma sorte de objetos que ganham conotação alienígena aqui na região dos trópicos austrais – a tradição natalina encontrou no Brasil um terreno fértil em manifestações musicais, associadas aos mais diferentes contextos culturais. As primeiras manifestações musicais natalinas ocorridas no Brasil datam entre os séculos XVI e XVI, devido à colonização portuguesa e ao trabalho evangelizador da Companhia de Jesus. Os primeiros exemplos de música natalina tiveram como base hábitos e tradições presentes na cultura européia.  Entretanto, os “autos” organizados pelos jesuítas (peças teatrais sacras apresentadas ao ar livre) tinham por costume misturar elementos europeus com indígenas, preservando a linguagem musical do Velho Mundo em textos cantados num dado idioma local. É possivelmente deste encontro que provém os primeiros exemplos musicais nat

como você percebe a música

Um dos melhores livros que pude ler nesse ano tem 167 páginas e se chama "A Música Desperta o Tempo" , do maestro e pianista Daniel Barenboim. Mais do que falar de música, ele fala da nossa vida com música: "Infelizmente, o ser humano tem a tendência de impregnar objetos com autoridade moral, de modo a não assumir responsabilidades para si mesmo. A faca é um objeto com o qual se pode cometer um assassinato - sendo, por isso, imoral - ou é um objeto que pode cortar o pão que alimentará alguém - sendo, por isso, um instrumento da generosidade humana? É o uso destinado a ela pelo homem que determina suas qualidades morais" (p.44). "Um ouvido educado desenvolve a capacidade de separar o conteúdo da música das sensações que se aprende a associar a ela (p. 109)". "Na verdade, não há nenhuma justificativa para privar as pessoas que afortunadamente não sofrem dessas terríveis associações da possibilidade de ouvir a sua música" (p. 113). "Numa

música ruim é sempre a dos outros

Você pode ter dúvidas existenciais hamletianas ou não saber diferenciar um triângulo isósceles de um escaleno. Mas de uma coisa você tem plena ciência: todo mundo sabe o que é uma música boa e o que é uma música ruim. Sem citar nomes nem canções, para não incorrer em injustiças, música boa é aquela que você e eu escutamos. Música ruim é aquela que toca na festa do vizinho ou aquela que o mancebo do carro com o porta-malas aberto escuta. Pior do que uma música ruim é uma música chata. Provavelmente o que define o grau de chatice de uma música é a sua repetição ad infinitum . Nesse caso, mesmo sua obra-prima predileta fica insuportável e aí pode ser Pixinguinha (alguém ainda aguenta os versos "Meu coração não sei por que...") ou Beethoven (viu no que transformaram a Pour Elise?). Agora imagine uma música ruim repetida mil vezes em mil celulares no ônibus. A repetição se torna ad nauseam . O site Retrocrush fez uma pesquisa com cerca de 4 mil pessoas nos Estados Unidos par

O Deus vivo e o Deus não-existente

Deus existe? A maioria das pessoas acredita que sim. Mas dentro dessa maioria há grupos que pouco se importam com os fundamentos bíblicos do cristianismo e outros que se importam tanto com os dogmas que se esquecem de ser cristãos; há aqueles que invocam Jeová para praticar atrocidades e outros que invocam a Deus para que os defenda de tamanhas atrocidades. Deus não existe? Alguns ateus são denominados “brights”(brilhantes), e de fato, muitos deles possuem uma trajetória intelectual brilhante. Eles renegam qualquer pensamento de explicação sobrenatural da história do universo e do homem: Daniel C. Dennett considera inviável o convívio entre ciência e religião, como se o indivíduo não pudesse conciliar ambas. Christopher Hitchens chegou a apregoar a irrelevância do cristianismo na tradição cultural da humanidade. Bem se vê que na luta para suprimir a fé e eleger exclusivamente a Razão, pode-se perder a razão. Sobre um personagem de um conto em Ficções , Jorge Luis Borges diz que “Buck

10 anos em 10 filmes

Nem DVD nem Blu-Ray. Nos últimos dez anos, o cinema enfrentou a pior das concorrências: a vida como ela é. Ataque às Torres Gêmeas, terremotos e vulcões, eleição do Obama, replays esportivos em câmera lenta, a tomada do Complexo do Alemão. A realidade virou reality show e ficou mais interessante do que a ficção. O cinema, como sempre, tem duas saídas para manter o poder de atração: 1) O cinema tecnológico que cria uma realidade virtual espetacular; 2) O cinema pedagógico que revela a dureza espetacular da realidade.  Ecologia, terrorismo, misticismo e quadrinhos: os filmes a seguir não são os melhores da década (pelo menos, não são para mim. Metade deles, inclusive, nem assisti). Mas eles são o rosto real/ficcional dos últimos dez anos: Farenheit 9/11 O que é : O que estaria por trás do ataque terrorista do fatídico 11 de setembro. O diretor Michael Moore foi criticado por manipular imagens e fatos. Em suma: É uma espécie de Globo Repórter dirigido por Nelson Rubens: Michael Moore

Deus não precisa de espectadores

Estou rodeado de imagens. Para onde olho há uma tela onde aparece alguém que não me conhece, que não faz a menor ideia de quem sou, que não paga minha conta de luz, a luz que pago para assistí-lo numa tela. Estou rodeado de sons. Para onde olho há alguém que talvez não me conheça bem, mas eu conheço sua música, eu o ouço sem que ele me peça "me ouça, por favor". Vejo imagens numa tela na minha sala. Ouço música numa igreja. Nos dois casos, eu não passo de um espectador. É mais fácil. É só apertar o play e relaxar. É só sentar no banco da igreja e assistir. Mas as pessoas devem ir à igreja para assistir um culto ou prestar um culto? Deus não está precisando de espectadores. A Bíblia diz (em João 4:23) que Deus procura verdadeiros adoradores, que O adorem em espírito e em verdade. Ele não procura espectadores que assistem um culto. Ele quer adoradores que participem ativamente de um culto. Que situação: Deus à procura de verdadeiros adoradores mas encontrando espectadores d

no planeta dos ronaldos

Três Ronaldos há. O primeiro que chegou, chegou como um fenômeno pela própria natureza. Assombrosamente rápido, partia na direção do gol como se as redes fossem um ímã irresistível. Mas o maior feito de Ronaldo Fenômeno não são seus gols. É seu desafio à lei da resiliência. Estava culpado demais depois do fiasco da final da Copa do Mundo de 98. Estava operado demais antes da Copa do Mundo de 2002. Estava gordo demais ao chegar ao Corinthians. Por três vezes lhe juraram um final infeliz. Por três vezes ele respondeu do único jeito que sabe: com triunfos. É famoso, todo mundo reconhece aqueles dentes e aquela cabeça raspada, e embalado em controvérsias, mas raramente se encontra alguém que torça contra ele. É um meninão mimado por uma torcida mundial. O segundo Ronaldo chegou como um acrobata, um malabarista. Uma pirueta, duas piruetas, bravo, bravooo! Era um encantador de adversários. Juntos, ele e a bola pareciam dois apaixonados que só se desgrudavam na hora do gol. Ilusão.

do Haja luz ao Haja money

No estado do Kentucky, Estados Unidos, planeja-se a construção de um parque temático do Criacionismo . Ao custo de 150 milhões de dólares, o complexo vai abrigar uma réplica da Arca de Noé (com animais vivos dentro da arca), uma réplica da Torre de Babel, um cinema com efeitos especiais e outras atrações. Uma coisa é o estudo, a coleta e a exposição de utensílios e outros vestígios relacionados ao povo hebreu que viveu no Oriente Médio antes de Cristo. Outra bem diferente é erguer uma espécie de Disneylândia sagrada. Isso é como usar o "Haja luz" para promover o "Haja money". Saindo do Gênesis para o Apocalipse, já ouvimos falar de pessoas que tem a estranha mania de agendar uma data para o segundo advento de Cristo à Terra. Embora a Bíblia afirme que ninguém, a não ser o próprio Deus, conhece o dia da volta de Jesus, sempre aparece alguém portando cálculos aritméticos e hermenêutica bíblica bem pessoal iludindo, se possível for, os muitos incautos. A garantia é q

uma entrevista sobre o gospel no Brasil

O jornal O Estado de S. Paulo publicou (30/11/10) uma matéria sobre minha dissertação de mestrado . A reportagem é de Larissa Linder, especial para o Estadão:   Uma gravadora de música gospel brasileira conseguiu faturar R$ 18 milhões em 2008. No mesmo ano, uma cantora  evangélica emplacou seu hit na trilha sonora em novela do horário nobre da TV Globo. Foram fatos como esses que fizeram Joêzer Mendonça buscar os motivos do  sucesso da música religiosa. “Quis entender o que a levou a ser esse fenômeno de público e de vendas”, conta o professor e pianista de música sacra. Para investigar a popularidade da música evangélica durante o preparo de sua dissertação de mestrado – "O Gospel é Pop: Música e Religião na Cultura Pós-Moderna", apresentada no núcleo de Musicologia do Instituto de Artes da Unesp no ano passado –, o professor passou a ouvir muitas canções. “Tem de tudo, desde rock até funk evangélico; os artistas se apropriam desses ritmos populares para alcançar um pú

cem palavras: a infantilização da vida

"Eu não quero crescer. Quero ser para sempre um menino e me divertir" . Peter Pan, fugindo para a Terra do Nunca "A adolescência começa antes da puberdade e, para alguns, dura para sempre [...] a negação da idade está em toda parte". Robert J. Samuelson (Adventures in Agelessness, Newsweek ) "Na indústria da moda, os vendedores visam a mãe que tenta parecer que tem 15 anos, ao mesmo tempo que a criança é enfeitada para parecer que tem 40 anos". Ginia Bellafante (Dressing up, New York Times ) "Leitores adultos debandando para Harry Potter (quando não estão abandonando completamente o hábito da leitura); filmes inspirados em quadrinhos e videogames dominando o mercado do entretenimento" [...] "As marcas da infância perpétua são impressas em adultos que são atraídos por: roupas sem formalidade, sexo sem reprodução, trabalho sem disciplina, aquisição sem propósito, certeza sem dúvida e narcisismo até a idade avançada [...] Na época em qu

como Davi ou como Michael Jackson?

Michael Jackson foi um artista extraordinário. Voz inimitável, coreografias surpreendentes, canções marcantes, produções tecnicamente impecáveis. Além disso, apesar das polêmicas e controvérsias de sua vida fora dos palcos, não me lembro de que ele tenha misturado religião e passos do "moonwalk" (o famoso andar deslizando para trás). O Raiz Coral, ligado à música gospel, venceu a semifinal do concurso "Qual é o Seu Talento?" (QST), do SBT. Nessa etapa do programa, o coral cantou e dançou uma música em que alguns trechos da letra dizem "Se o espírito de Deus habita em mim, eu danço como Davi/eu salto como Davi". A canção original diz "Eu canto como o rei Davi". Mas a dança apresentou os passos do "moonwalk".  O que o Raiz Coral queria dizer é: Se o espírito de Deus se move em mim, eu canto como Davi e danço como Michael Jackson? A comparação é muito forte? Então, olha o que disse um dos jurados do programa, Carlos Eduardo Miranda com

as quatro leis do som alto

Em São Paulo, há um projeto de lei que prevê multa de R$ 1 mil quem usar aparelho portátil com som acima de 45 decibéis em áreas residenciais. Isso também se aplicará a quem ouve funk no celular sem fone de ouvido. Na verdade não precisa ser funk. O caso nem é a música. É a intensidade do som. Esse tipo de ouvinte não se contenta em ouvir só para ele e sai batendo de ouvido em ouvido o seu sertanejo de universitário baladeiro, sua lady gaguejante, seu pop-emo lacrimejante, seu pancadão sacolejante. Mas não se entusiasme. Ouvir Justin Bieber ou Restart não vai virar crime inafiançável. Até porque quem escuta é menor de idade (Se não é de menor, então deve haver algum problema na contagem de parafusos). 45 decibéis equivalem ao barulho de um aparelho de ar-condicionado ligado. Agora você entende porque decibel é uma unidade de medida do som. Se um Bel (o cantor do Chiclete com Banana, por exemplo) incomoda muita gente, 50 deciBéis incomodam muito mais.  “A tolerância para suportar o

a ética e a estética de Avinu Malkenu

Quando ouvi o CD Avinu Malkenu pela primeira vez, estranhei do jeito que se estranha uma novidade. Apesar da beleza do propósito, tudo me pareceu fora de lugar. Dias depois, ouvi o cd outra vez, e me vieram à mente apenas duas palavras: diálogo e origem. A intenção dos produtores do CD (Leonardo Gonçalves e Edson Nunes Jr) é a busca de diálogo com outras culturas, com outras pessoas, ligadas ou não a uma religião. Mas esse diálogo é estabelecido com um profundo arraigamento à própria identidade religiosa. A busca de diálogo é feita a partir da raiz. Não por acaso, a capa do CD é uma raiz. E uma raiz cresce, vira planta, vira árvore, aparece junto com outras árvores, forma floresta, mas seu tronco, suas folhas e seus frutos são só as partes visíveis da raiz que deu origem a tudo o mais. Algumas das músicas de Avinu Malkenu estão enraizadas na tradição litúrgica do judaísmo. Ao mesmo tempo, algumas de suas letras enfatizam aspectos do cristianismo, particularmente do adventismo. Algu

a ética e a estética de Avinu Malkenu - parte 2

Nenhuma cultura está pronta e acabada para sempre. As expressões culturais são dinâmicas, se renovam ao agregar influências de outras culturas. A música judaica influenciou a música ibérica de 10 séculos atrás, fazendo surgir a tradição musical moura. Por outro lado, músicos judeus longe de Israel absorveram a cultura local para renovar a tradição. Assim, ouvindo a festiva canção “L’shana habaa” percebe-se a raiz da música moura/ibérica e como sua percussão está a um passo da música caribenha. Nesse contexto de interação cultural, ouvimos o shofar e o alaúde e também o piano elétrico. Ouvimos a tradição no estilo de Uzi Hitman, compositor de “Adon olam”, e também a modernidade de Nurit Hirsh, regente e também compositora de mais de mil canções, autora de “Osse shalom”, originalmente composta para um festival de Música Chadíssica, de 1969, que se tornou parte da liturgia em sinagogas e comunidades judaicas no mundo inteiro. A simplicidade melódica das canções esconde a sofisticação do

Os Estados Unidos e a saída pela direita

Você já ouviu falar do Tea Party mas não sabe muito bem o que é? Te explico sem meias palavras: é um movimento de extrema-direita que conjuga fundamentalismo evangélico com racismo e ao mesmo tempo prega um neoliberalismo radical em que o Estado deixaria de atuar em setores como educação, saúde e regulamentação dos bancos e se preocupasse só com a segurança pública. Misturando xenofobia com ufanismo raivoso, muitos deles criticam as leis que proíbem empresas privadas de discriminar clientes por raça ou religião e se declaram contrários à concessão de cidadania para filhos de emigrantes nascidos nos EUA. Era esse pensamento fascitóide que pretendia cassar a cidadania de Barack Obama durante a campanha eleitoral de 2008. E até hoje, os militantes do Tea Party vão às ruas com faixas chamando Obama de radical islâmico, anticristo, marxista e nazista. Tudo no mesmo ato. Nascido e criado nos grotões mais conservadores dos EUA, o Tea Party põe no mesmo caldo grosseiro e maldoso religião e

Seis cegos e um elefante, ou, nossa mania de juiz

Era uma vez seis cegos à beira de uma estrada. Um dia, lá do fundo de sua escuridão, eles ouviram um alvoroço e perguntaram o que era. Era um elefante passando e a multidão tumultuada atrás dele. Os cegos não sabiam o que era um elefante e quiseram conhecê-lo. Então o guia parou o animal e os cegos começaram a examiná-lo: Apalparam, apalparam...Terminado o exame, os cegos começaram a conversar: — Puxa! Que animal esquisito! Parece uma coluna coberta de pêlos!                                                           — Você está doido? Coluna que nada! Elefante é um enorme abano, isto sim!                                              — Qual abano, colega! Você parece cego! Elefante é uma espada que quase me feriu!                                 — Nada de espada e nem de abano, nem de coluna. Elefante é uma corda, eu até puxei.                              — De jeito nenhum! Elefante é uma enorme serpente que se enrola.                                                              — Mas