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Mostrando postagens de 2011

as músicas de 2011

Alguns dos álbuns que ouvi esse ano, e que considero importantes e bons, eu já gostei na primeira audição, como, entre outros, os trabalhos de Fernando Iglesias, Daniel Lüdtke e Athus (este, por se tratar de músicas já consagradas e ainda com aquelas pequenas joias musicais infantis). E alguns precisaram de mais audições. Faltou escutar outras músicas e cantores, mas aí está minha lista do que consegui ouvir quando meus filhos deixam eu mudar de cd em casa ou no carro: Um CD que celebra o encontro entre a musicalidade popular e a sofisticação orquestral: Peças de Francis Hime e Nelson Ayres , gravadas pela OSESP (Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo) Dois gigantes da música instrumental brasileira na interpretação de dois grandes músicos: GismontiPascoal – A música de Egberto e Hermeto , de André Mehmari e Hamilton de Hollanda Um CD com obras de um gênio do Romantismo interpretadas por um gênio do recato do sentimento: Chopin – The Nocturnes , de Nelson Freire

os filmes de 2011

Mais lentos e reflexivos, mais ágeis e divertidos, mais recentes, mais antigos, que comovem com sinceridade, que fazem sorrir sem vulgaridade: esses são os melhores filmes que assisti em 2011.  Meia Noite em Paris , de Woody Allen – Uma fábula sobre o tempo, sobre o modo como idealizamos o passado, sobre o consumismo alienante contra a contemplação da beleza da arte e da vida. E ainda é romântico e engraçado onde as novas comédias americanas só são vulgares. O Palhaço , de Selton Mello – Que palhaços escondem sua melancolia todos sabemos. Que essa melancolia vá aos poucos dando lugar à ternura, ao amor entre pai e filho, à reconciliação consigo mesmo, tudo isso sem perder a piada (e sem deixar de ser “censura livre”) é uma proeza. Homens e Deuses , de Xavier Beauvois – A história dos monges ameaçados por terroristas islâmicos na Argélia não é contada como um filme de ação, mas de reflexão. Apesar da morte anunciada, aqueles homens não perdem a fé em Deus, buscam a frate

os livros de 2011

Tem hora que meus estudos exigem tanta bibliografia, que já não sei se estou lendo para estudar ou se estou estudando para ler. Na hora de peneirar o trigo e o joio, separei abaixo dez livros lidos em 2011: Um livro de fácil leitura de um biofísico e teólogo que desmonta um a um os argumentos de outro livro (Deus, um delírio) : O delírio de Dawkins , de Alister McGrath. Um livro de um ateu que mostra como os bestsellers ateístas promovem uma caricatura da realidade religiosa e como a ciência e a religião têm traído seus ideais: O debate sobre Deus: razão, fé e revolução , de Terry Eagleton. Um livro que abandona a história da música contada em linha reta e une estética e politicamente blues e Bach, ópera e Bob Dylan, John Cage e Kurt Cobain: Escuta Só: do clássico ao pop , de Alex Ross  Um livro que descortina uma percepção sábia da música e nos apresenta uma ideia rica e inclusiva da prática musical: A Música Desperta o Tempo , de Daniel Barenboim Um livro qu

Charlie Brown e o verdadeiro sentido do natal

Em 1965, foi ao ar um dos programas especiais mais amados de todos os natais televisivos, " A Charlie Brown Christmas " (O Natal do Charlie Brown). O produtor do especial, Lee Mendelson, conta que Charles Schulz, o criador dos Peanuts (a turma do Charlie Brown), insistiu que o programa deveria ser sobre o verdadeiro significado do Natal. De outro modo, "por que se importar em fazer um especial de Natal", Schulz teria dito a Mendelson. Quando os produtores lhe perguntaram se ele realmente queria incluir um texto bíblico na animação de Natal, Schulz respondeu: "Se nós não fizermos, quem fará?"  E assim ficou a marcante cena em que Charlie Brown pergunta se alguém pode lhe explicar qual o verdadeiro sentido do Natal e Linus responde entrando num palco e recitando com inocência cativante a passagem de Lucas 2:8-14. Lee Mendelson considera que esses são "os dois minutos mais encantadores da história da animação na TV". Ao escrever sobre os P

quando a esmola da Globo é demais, o crente desconfia

A música gospel se tornou a espinha dorsal de uma indústria cujos altos cifrões de vendagem e baixos números de pirataria chamaram a atenção da indústria musical secular.  O potencial consumidor do mercado musical evangélico chamou a atenção da Rede Globo, a partir do seu braço musical, a Som Livre. O resultado foi a produção e exibição do Festival Promessas , que contou com os nomes mais conhecidos do gospel nacional. Então, as desavenças históricas entre a Globo e os evangélicos (leia-se “entre Globo e Edir Macedo”, leia-se, Globo e Record) são coisa do passado? Não se engane. Nessa diplomacia religiosa há muito de disputa comercial. As TVs vivem de audiência e nada mais natural que a Globo veja os evangélicos não como um campo missionário, mas como seara pronta para a ceifa de lucros e dividendos. E o que faz o cristão quando se vê como um componente do jogo de mercado? Dá as costas e vai procurar sua turma? Dá uma lição nas víboras capitalistas e vai vender geleia R

eu odeio música clássica

"Eu odeio música clássica: não a coisa, mas o nome. Há pelo menos um século, a música tem sido escrava de um culto elitista medíocre que tenta fabricar autoestima agarrando-se a fórmulas vazias de superioridade intelectual. Pensem nos outros nomes que lhe dão: música "erudita", música "séria", "grande" música, "boa" música.  "Os compositores foram traídos por uma gente bem-intencionada que acredita que a música deveria ser comercializada como um bem de luxo, que substitui um produto popular inferior. Esses guardiões dizem: "A música que você adora é lixo. Em vez disso, ouça nossa grande música erudita". Mas a música é um meio pessoal demais para sustentar uma hierarquia absoluta de valores. "Ao ouvir a palavra "clássica", muita gente só pensa em "morta". A música é descrita em termos de sua distância do presente, sua diferença da massa". Esse foi um resumo canhestro das primeiras du

perdoa-me por não consumir

Logo após a II Guerra Mundial, o mundo estava falido, faminto e sem crédito. Mesmo o vigoroso parque industrial dos Estados Unidos via seu futuro ameaçado. Quem compraria os produtos fabricados pelos EUA? E onde os milhares de soldados que voltavam pra casa iriam trabalhar? A solução veio de Victor Lebow, um consultor norte-americano especializado em varejo. A saída era a aceleração do ciclo de produção e consumo: “Nossa economia enormemente produtiva requer que façamos do consumo o nosso modo de vida, que convertamos a compra e o uso de mercadorias em rituais, que busquemos a nossa satisfação espiritual ou do nosso ego no consumo. Nós precisamos de coisas consumidas, destruídas, gastas, substituídas e descartadas numa taxa continuamente crescente” (Carta Capital, ed. 675) . E assim se fez. Houve tardes e manhãs e substituiu-se a “economia de abastecimento” pela “economia de consumo”. E o parque industrial “curtiu” muito tudo isso. A média de durabilidade de 99% dos pro

a ética de Sócrates e o calcanhar de Aquiles

Sócrates, o filósofo grego, morreu envenenado por uma bebida feita de cicuta. Sócrates, o genial jogador, faleceu envenenado pela bebida alcoólica. Nessa óbvia e trágica conexão greco-tupiniquim, o nosso Sócrates, rei do calcanhar no futebol, tinha também seu calcanhar de Aquiles. Como ele mesmo viria a admitir nos últimos meses, ele abusou do álcool e seu corpo começou a cobrar essa dívida que, em geral, se paga com a vida. É claro que nenhuma cervejaria convidou Sócrates para protagonizar seus comerciais. Até porque em propaganda de bebida alcoólica só tem povo sarado e “guerreiro”. E Sócrates não era um guerreiro de futilidades: assim como lutou pela participação dos jogadores nas decisões importantes do clube (criou a chamada Democracia Corintiana), ele lutou também pela participação popular no processo democrático brasileiro. As Diretas Já não vieram a tempo, em 1985, mas foi só uma questão de tempo. Assim como Antonio Carlos Brasileiro Jobim, Sócrates também tinha o

por favor, não atirem no pianista

Dia do músico . Podia até ser feriado santo dado o caráter de santo remédio atribuído à música.  O pianista geralmente é visto como um agraciado, um privilegiado que lê hieróglifos e fala pelos dedos. Ou como um chato que martela o piano e o ouvido alheio, que é obrigado ao exercício de escalas musicais enquanto os outros são obrigados ao exercício da tolerância. Aos 13 anos, eu mesmo torturava as ajudantes domésticas tascando-lhes na escuta as escalas de Hanon às duas da tarde. Quando o almoço não tinha sobremesa, aí o castigo infligido era meia hora do terrível "Microkosmos" do Bartók. À noite, após o jantar e a sagrada reunião familiar, meu pai me pedia: "Filhão, toque aquela música". Era a deixa para eu dedilhar o  Pour Elise  de Beethoven. Quando recebíamos visitas ilustres, pelo menos ilustres para os meus pais, eu ouvia o indefectível pedido: "Toque aquela música!".  Mas um dia minha ridícula rebeldia pré-adolescente viria à tona. V

vida de ateu é uma dureza. ou não?

A colunista da revista Época Eliane Brum publicou uma história em que uma ateia entra no táxi de um evangélico. O leitor percebe que a passageira é muito bem-informada, em contraste com o taxista que é devidamente um "ignorante fundamentalista". Enquanto a passageira reflete sobre o caráter mercantil do neopentecostalismo, algo que é bastante estudado nos círculos acadêmicos, e com o que muito protestante concorda, o taxista apresenta uma fala bem simplória. Não se trata de uma história surreal. Mesmo os chavões proselitistas do taxista são costumeiramente ouvidos por aí. Os diálogos poderiam acontecer numa rua perto de você. Mas nesse texto, vejo que Eliane Brum dá a entender que ser ateu num Brasil evangélico é uma dureza. Ser ateu no Brasil é mesmo difícil? Só se para o ateu é difícil conviver com pessoas com visões de mundo diferentes. Talvez seja mais difícil para um cristão moderado conviver com este Brasil de um evangelicalismo cada vez mais estridente. Mas

UFC: Ultraje Feroz do Corpo

Dois homens em uma arena chutam cabeças e esmurram fígados, e isso rende o delírio da galera. Um quer a deformação do corpo do outro, e isso rende fama e fortuna. UFC (Ultimate Fighting Championship) quer dizer mesmo é Ultraje Feroz do Corpo. Mas para que ninguém fique a pensar na degradação física e espiritual do momento, é preciso fazer dessa rinha de galos um espetáculo televisivo. A TV Globo, que se recusava a cobrir as lutas do MMA (as artes marciais mistas), gasta sua semana esportiva explicando que agora, com novas regras, as lutas são “um pouco menos violentas do que o vale-tudo”, como disse o apresentador Luís Ernesto Lacombe. A sinceridade foi logo corrigida na fala seguinte: “Mas é bem bacana”. É bem bacana, então, ver a brutalidade elevada à categoria de esporte “civilizado”. É bem bacana, então, assistir a violência de socos, pontapés e sufocamentos. É bacana ver o público se extasiar quando um homem é espancado no chão (mas agora o juiz intervém mais rápido. A

da imperfeição da música moderna

"Muitas composições modernas são muito bonitas e chamativas no papel, mas pobres cantores! Colocam alterações onde querem, [...] Os atuais compositores só nos trazem mais confusão e grandes imperfeições, não de pouca importância, em vez de enriquecer, aumentar e enobrecer a música com recursos variados como fizeram tantos outros, querem transformar a música de modo que o belo não se distinguirá do bárbaro". Quem disse isso foi o italiano Giovanni Artusi, compositor e pesquisador musical. Você concorda com ele, certo? Você está pensando na decadência da música brasileira, no declínio da música sacra, em como as pessoas hoje estão colocando o feio no lugar do belo, etc?  O detalhe é que Giovanni Maria Artusi viveu de 1540 a 1613. Ele se envolveu numa discussão quando seu professor Zarlino, defensor do estilo tradicional, foi criticado por Vicenzo Galilei, teórico musical e pai de Galileu.  Artusi criticou as inovações do compositor Claudio Monteverdi, considerado há bastant

a música mais relaxante do mundo

Ela desacelera sua respiração e reduz sua atividade cerebral . Esse é o efeito da música Weightless (tradução: sem peso), da banda inglesa Marconi Union, já considerada a "música mais relaxante do mundo". A trilha de oito minutos seria tão eficaz em induzir ao sono que os motoristas são advertidos a não ouvi-la enquanto dirigem. Segundo o jornal Daily Mail , a banda buscou a orientação de terapeutas do som (os musicoterapeutas) para saber quais harmonias, ritmos e linhas de baixo seriam as mais eficientes. "O efeito nos ouvintes é uma desaceleração do ritmo cardíaco, redução da pressão sanguínea e diminuição dos níveis de cortisol (o hormônio do stress). A música do Marconi Union incorpora elementos de eletrônica, ambient, jazz e dub (informações que constam no vídeo no YouTube). Agora, relaxe. Se puder. Cientistas fizeram testes com 40 mulheres e disseram que esta música é mais eficiente para relaxar do que Enya ou Mozart. Outro estudo, encomendado

o falso profeta e o sangue negro

Uma paulada no falso profeta que se mete em negociatas e outra no negociante que prediz falsamente que a riqueza do petróleo será de todos. Isto é Sangue Negro , a história de um homem movendo montanhas pra encontrar petróleo e de um religioso atrás de almas e dólares. O império do automóvel, do petróleo e dos computadores foi construído por empreendedores que, sem eira nem beira, e por seus próprios méritos espalharam a riqueza mundo afora. Eles seriam os  self-made-men , um mito do capitalismo norte-americano. O mito está menos na impressionante persistência do empreendedorismo e mais na distribuição da riqueza. As megaempresas foram erguidas à custa de muita exploração de mão-de-obra, de chantagens, subornos e acordos espúrios entre governos e indústrias. Um enriquece muito, alguns enriquecem bastante e muitos não enriquecem nada. Como eu disse, trata-se de um mito, mas não tem nada de conto de fadas. Muito sangue correu. Aliás, o título original do filme Sangue Negro é T

o guia musical do louvor errado

As músicas desse vídeo, produzido por músicos da Primeira Igreja Batista de Orlando/EUA, são conhecidas melodias. Essas versões vão no nervo do problema. Pior que uma música esteticamente inadequada é um adorador espiritualmente hipócrita.

a sua semana começa assim?

música sacra, controle religioso e fetiche musical

Nos debates sobre música cristã, são convocados argumentos bíblicos, históricos, culturais, evangelísticos, comportamentais e até argumentos biológicos, psicofísicos e acústicos. Sem contar as lendas evangélicas urbanas como mensagens subliminares, vegetais que só gostam de Mozart etc. Eu gostaria de entrar no debate com dois argumentos: o da estabilidade sociorreligiosa e o da fetichização musical. O argumento da estabilidade : em uma prática musical comunitária, costuma-se observar, de um lado, uma comunidade que exerce um poder de controle sobre sua música considerada sagrada. Qualquer inovação musical é vista, a princípio, como um fator desestabilizador ou desviante da sacralidade de sua música. O controle é necessário para manter a estabilidade do sagrado atribuído a um dado repertório musical. Sem essa estabilidade sociorreligiosa, a comunidade pode entrar em conflito religioso e cultural.  De outro lado, observa-se o poder dessa música sagrada sobre a comunidade

a volta ao mundo em três gritos

Nos Estados Unidos, estão gritando por emprego e reforma do sistema financeiro... No Chile, estão gritando por melhorias no sistema universitário... No Brasil, gritos mesmo só de fãs histéricas.

inventores, mestres, diluidores

O escritor Ezra Pound, em ABC da Literatura (Ed. Cultrix), propôs a existência de três classes de criadores: 1.   Inventores : os que descobrem um novo processo ou cuja obra nos dá o primeiro exemplo conhecido de um processo; 2. Mestres : os que fazem várias combinações do processo inicial e se saem tão bem ou melhor do que os inventores; 3. Diluidores : aqueles que vieram depois e não foram capazes de realizar tão bem o trabalho. Ezra Pound falava de literatura. Mas a gente pode usar seus argumentos pra falar de música. Tomando como exemplo o baião nordestino, nos anos 1940 Luiz Gonzaga desenvolveu uma maneira particular de tocar o baião. Ele não era bem um compositor ou um letrista (poesia mesmo quem fazia eram os seus parceiros Humberto Teixeira e Zé Dantas), mas Gonzagão acabou sendo respeitado como um autêntico inventor. Um estilo musical nem sempre nasce pelas mãos de um homem só. Uma pessoa pode criar um modo diferente de tocar um ritmo (como João Gilberto e s

to buy or not to buy: eis a questão da ExpoCristã

Todo ano surge o mesmo conflito sobre a ExpoCristã. É mercantilização dos bens religiosos simbólicos? Ou é simples comercialização de bens religiosos de consumo? Entre Deus e o mercado, entre a cruz e o chaveirinho evangélico, entre a Bíblia e a capa zebra-style de Bíblia, os evangélicos se perguntam: to buy or not to buy? (comprar ou não comprar, Hamlet perguntaria se, em vez de dinamarquês e com um crânio na mão, fosse um crente com cartão de crédito estourado).     1.  A ExpoCristã é mercantilização da religião? A expansão do mercado gospel é acompanhada do aumento do poder de consumo das classes populares no Brasil e, claro, pelo grande número de igrejas neopentecostais. Há uma demanda dos consumidores religiosos por produtos que não apenas tragam conforto ou conhecimento espiritual, mas também por produtos que afirmem sua identidade evangélica (camisetas, sandálias, acessórios, todos com slogans evangélicos). O professor Leonildo Campos, em  Templo, Teatro, Mercado

ministérios de música em ação

As recentes observações, e também conversas informais, sobre a música dos adventistas no Brasil, objeto de minha pesquisa na UNESP, me levam a perceber uma crescente preocupação quanto à qualidade do louvor congregacional durante os momentos litúrgicos. Como diz o música Ronnye Dias, entrevistado pela Revista Adventista (set/2011), há uma necessidade de maior qualidade na ministração do louvor nas igrejas. Ronnye Dias tem passagem por várias instituições adventistas, e foi contratado pela sede administrativa paulistana da Igreja Adventista do Sétimo Dia (IASD), no fim do ano passado, para trabalhar no Ministério da Música da Associação e como ministro de louvor da IASD Nova Semente. Recentemente, Ronnye Dias colaborou com o projeto Vida e Louvor , dirigido aos líderes e músicos da IASD na Região Centro-Oeste. O projeto visa ajudar os responsáveis pela adoração musical nas igrejas locais. Entre os pontos estudados, os participantes aprenderam sobre liturgia, funcionamento do min

inverno da alma

Durante um ano e meio, trabalhei como arte-educador no Programa Atitude, um projeto que atuava em áreas urbanas de risco social, como o bairro Independência, em São José dos Pinhais (área metropolitana de Curitiba), local dos mais altos índices de miséria e violência. Percorrer as vielas entre os barracos e casas degradadas, convidar as crianças para as aulas de música, convencer os adolescentes seduzidos pelo dinheiro rápido do tráfico de drogas a abraçar os projetos de ensino e emprego, visitar escolas públicas de sala em sala divulgando o programa, tudo isso foi um mergulho numa realidade tremendamente complexa. Lembro de um adolescente que agarrou sua chance de dar aulas de violão para os colegas de sua comunidade. Ele decidiu dar a si uma nova chance e me dizia que agora queria algo melhor para sua vida. Ser íntegro quando os colegas não compartilhavam de sua integridade: uma escolha nada fácil. O que estou escrevendo tem a ver com Inverno da Alma (2010), filme qu

pés descalços, olhos no céu

O compositor Heitor Villa-Lobos regeu um grupo de instrumentistas durante a famosa Semana de Arte Moderna, em 1922. Naqueles dias, um punhado de poetas, artistas plásticos e intelectuais se reuniu para manifestar sua desaprovação à tradição artística clássica que restringia sua liberdade de expressão. E mais ainda: demonstrar seu total repúdio a quem buscava imitar e macaquear a cultura estrangeira, em vez de deglutir antropofagicamente o estrangeiro e criar uma versão tupiniquim, com as caras do Brasil. Eles ansiavam por uma arte de características tipicamente nacionais. Tupi or not tupi? , bradava Oswald de Andrade. Villa-Lobos se apresentou descalço durante um dos concertos. Foi o sinal para ninguém prestar atenção na obra, na regência, na música. Talvez só se falasse do maestro regendo descalço. Os tradicionais acharam um desrespeito. Os modernistas vibraram com o ato. Posso até imitar a prosa exaltada e hiperbólica dos modernistas e supor que eles reagissem assim: “Villa-L