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Mostrando postagens de janeiro, 2011

reavivamento e reforma: qual a trilha sonora?

Hoje, clama-se por reavivamento e reforma.  A trilha sonora tem que ser a mesma de séculos passados?  Os hinos compostos no século XIX eram um produto de seu tempo e falavam diretamente às pessoas daquele tempo. Alguns deles, por motivos variados, romperam a barreira do tempo e ainda hoje soam belos. Outros, porém, não envelheceram muito bem. Por isso, de vez em quando são substituídos por novos hinos. Na época da Reforma, Lutero compôs hinos que falavam a nova língua doutrinária e para isso usou um novo idioma musical. No tempo do Grande Reavivamento dos séculos 18 e 19, outros compositores fizeram músicas que falavam a língua da renovação espiritual que florescia. E para isso, usaram um novo idioma musical, que já não era mais o de Lutero. Isso não quer dizer que devamos ungir os hinos e mandá-los para o cemitério das línguas mortas. De modo algum. Muitos deles ainda têm muito a nos dizer. E penso que tenham mais a nos dizer do que boa parte dos louvores de DVDs gravados ao vivo

o céu e a água

Passei a semana procurando a Deus nas letras de um livro, na melodia de uma canção. E eu O vi. Tanto quanto O vejo num almoço de família, quando parece que Ele está em pé, ao pé da escada, sorrindo com a nossa alegria fugaz. Percebo que Ele também inventa de estar nos lugares mais inesperados e abrasadores: sarças, fornalhas, carruagens de fogo. Outro dia, eu O vi na água. Aceitei o convite de tocar piano na igreja. Confesso que não é sempre que O vejo na igreja. Ele está lá, sim. Gosto de estar lá também. Mas nem sempre cuido de perceber que Ele veio. No templo, três meninas e um homem alto entram na água. Vestem longas batas azuis. Elas moram em um lar especial, onde encontraram muitas irmãs e uma nova mãe. Ele vai falar da vida de uma daquelas adolescentes, mas a voz falha. Ele tenta segurar o choro e fala para a menina que não tinha família que nós também somos os seus numerosos pais e irmãos. Ela chora e ele ora em nome do único e afetuoso Pai. Não sei se foi por causa dos meus

Cristo: o Senhor e Salvador do artista

Costumamos falar, pregar e cantar insistentemente sobre a redenção da cruz e a submissão da nossa vida a Cristo. Mas o fato é que, durante a semana, acabamos erguendo um muro que tenta limitar a atuação do “Senhor de nossas vidas”. Cristo não é o Senhor apenas de nossa prática científica, de nossa obra médica ou de nosso modelo educacional. Ele também é o Senhor de nossa criatividade, de nossas habilidades e competências para a arte. Se os cristãos costumam submeter as teorias científicas às evidências arqueológicas e também à Bíblia, por que eles não deveriam também moldar sua arte segundo a cosmovisão bíblica, e não como alguém guiado exclusivamente pela coleira das tendências artísticas da moda? Não quero dizer que haja cristãos fazendo arte sem nenhuma perspectiva bíblica, pois isso é impossível. Todos os artistas cristãos criam a partir de uma cosmovisão com base em uma interpretação bíblica.  E essa é a questão: a multiplicidade de interpretações bíblicas gera uma pluralidade

todos os filmes do presidente

O filme “Lula, o filho do Brasil” não conseguiu vaga entre os nove filmes pré-selecionados ao Oscar 2011 de melhor filme em língua não-inglesa. Melhor assim. Imagine o protagonista sabendo que o filme ganhou o troféu: “Nunca antes na história do país...” O júri brasileiro que enviou o filme do Lula para a pré-disputa deve ter escolhido esse filme com base numa equação com o seguinte resultado: a soma da competência cinematográfica do filme é inversamente proporcional à personalidade presidencial elevada ao cubo. Ou seja: o filme é uma droga, mas o personagem é genial. O júri selecionou o filme sobre o Lula com um olho no carisma do presidente no exterior e outro no prêmio inédito. Mas nos últimos anos o Oscar preferiu eleger filmes com temáticas bem diversas daquelas xaroposas pero edificantes histórias. Exemplos são o formidável A Vida dos Outros (2006) e o comovente A Partida (2008). Essa torcida toda por um filme nacional no Oscar parece a torcida por uma medalha olímpica no fut

bestsellers e religião

Olhando a lista dos livros mais vendidos a cada ano, nota-se o interesse do respeitável público leitor pelo tema da espiritualidade, seja em forma de ficção ou não, seja com conteúdos de magia ou de religião institucional. O interesse mundial está registrado nessa lista dos livros mais vendidos nos últimos 60 anos ( em milhões de cópias ): 1 - A Bíblia                                              5.000 a 6.000 2 – Citações do presidente Mao Tsé-Tung (ou O pequeno livro vermelho) - 900   3 – O Corão (ou Alcorão) -                                                      800 4 – Xinhua Zidian (“novo dicionário de caracteres da China”) - 400 5 – O Livro dos Mórmons , de Joseph Smith -                           120 6 – Harry Potter e a Pedra Filosofal , de J. K. Rowling -         107 7 – E Não Sobrou Nenhum , de Agatha Christie -                      100 8 – O Senhor dos Anéis , de J. R. R. Tolkien -                           100 9 – Harry Potter e o Enigma do Príncipe -                

a voz na música sacra

O que a performance vocal secular tem a ver com a música cristã contemporânea? Tudo. Os cantores evangélicos não inventaram nenhum modo de cantar. Mesmo ao escolher o padrão de voz ideal para cantar determinado estilo musical, suas interpretações também estão calcadas quase inevitavelmente nas performances dos cantores seculares. Se a influência vocal é inevitável, por outro lado temos que reconhecer que o artista cristão entra com suas particularidades vocais e interpretativas, moldando sua própria maneira de cantar. Embora todo mundo conheça alguém que faça cover gospel .   A cantora Elis Regina é considerada um paradigma vocal. Entretanto, apesar da alta qualidade de muitas de suas interpretações, Elis não raro enveredava pelo caminho do canto expansivo/excessivo, “colocando” a lágrima e o riso na voz, teatralizando a canção, pois tudo convinha ao seu modo interpretativo quase sempre transbordante. Seria o oposto da interpretação mais arejada de cantoras como Nara Leão e, atualme

racismo para crianças

"Em nós, até a cor é um defeito. Um imperdoável mal de nascença, o estigma de um crime".   Luiz Gama (1830-1882), advogado e jornalista. Sabemos que a abolição da escravatura, em 1888, não aboliu o preconceito de cor nem promoveu a figura do negro tão violentamente atacada em sua dignidade humana. Os ex-escravos passaram a ser tratados como um empecilho ao progresso social e biológico. Na Europa, o sociólogo e psicólogo francês Gustave Le Bon defendia "a superioridade racial e correlacionava as raças humanas com as espécies animais, baseando-se em critérios anatômicos como a cor da pele e o formato do crânio" , segundo o livro Raça Pura  - Uma história da eugenia no Brasil e no mundo, de Pietra Diwan (Editora Contexto). Entre os figurões da sociedade brasileira que abraçaram o pensamento eugênico estava o escritor Monteiro Lobato, cujas cartas mostram admiração pelo médico Renato Kehl, principal divulgador das teorias de Le Bon no Brasil.  Se racismo e “purifica

o leão de Nárnia é cristão?

Em entrevista ao Hollywood Reporter , Mark Johnson, produtor do filme A Viagem do Peregrino da Alvorada , disse que não sabe “se esses livros [As Crônicas de Nárnia] são cristãos”.  Mark Moring, no site Christianity Today , questiona esse desconhecimento. Leia a tradução da matéria de Moring a seguir:  Provavelmente, em nome do politicamente correto - e tentando evitar que o filme seja rotulado como um "filme cristão" - um dos principais produtores diz que não sabe se As Crônicas de Nárnia , de C. S. Lewis, são livros cristãos. Isso é espantoso. A frase completa de Johnson inclui uma referência à cena em que Aslan claramente morre e ressuscita como Cristo no primeiro livro e filme, O Leão, a Feiticeira e o Guarda-Roupa : “Ressurreição existe em tantas religiões diferentes, de uma forma ou outra, de modo é quase exclusivamente cristã. Não queremos favorecer um grupo em relação a outro ... se esses livros são cristãos, eu não sei”. Ainda mais espantoso é que as palavras de

disque Beethoven para sambar

No show da virada do ano em Copacabana, tocaram Beethoven misturado com samba. Cá pra mim, não há Engov no mundo capaz de aliviar uma mistura tão indigesta. Mas é melhor eu falar mal do Beethoven, já que, você já sabe, quem não gosta de samba, bom sujeito não é . Ninguém precisa ler mais do que dois textos desse blog pra descobrir que o autor tenta passar ao menos por bom sujeito. Mesmo assim, há quem se dê o trabalho de ir até a caixa de comentários e diagnosticar que sou ruim da cabeça. E este é o menor dos imprompérios. Beethoven com samba é uma mistura indigesta ou indigente? Não é porque eu não saiba dançar um mero dois-pra-lá-dois-pra-cá. Nem acho que Beethoven seja intocável e tenha que ficar num pedestal de pureza sem se misturar com seus primos musicais. Isso quem achava era Hitler (aliás, todos concordam que o nazista Adolf, esse sim, era ruim da cabeça). Mas pelo andar da sinfonia, Beethoven só se dá a conhecer no país do samba quando toca no caminhão de entrega de gás ou

como será o amanhã

Diz o Ramayana: “Os homens ficam felizes quando veem uma nova estação se aproximar, como se uma coisa nova estivesse para sobrevir” . As pessoas têm a estranha tendência de achar que o ano novo é uma página em branco e o Réveillon é a lousa onde se escreve as decisões de fazer o que deixou de ser feito. Mas 31 de dezembro não é botão de reset, é no máximo uma tecla de reiniciar, e no dia 1º de janeiro você ainda será você com todos os seus defeitos inconfessáveis e suas virtudes autoproclamadas. Como será o amanhã, pergunta a canção. Há uma grande probabilidade de o sol nascer e se pôr todos os dias. Mais que isso não sei dizer. Não sei se a Dilma fará um bom governo, mas acho que sim. Não sei se o Rio de Janeiro terá paz, mas desconfio que ainda não. Não sei se algum brasileiro ganhará o Nobel de Literatura, mas acho que não ganharemos nenhum Nobel de Medicina. Já existiu algum ano pior do que outro na história? Se pensarmos de forma coletiva, tirando o dia em que o pecado entrou n