Quando uma tragédia violentíssima acontece, como essa ocorrida numa escola municipal do Rio de Janeiro, nós queremos encontrar um sentido, uma explicação. Nessa hora, sempre aparecem maus jornalistas tecendo conexões apressadas.
No início da semana, a revista Veja fez matéria de capa sobre a presença da organização terrorista Al-Qaeda no Brasil. Estaríamos sediando prováveis homens-bomba?
Nessa quinta-feira, dia 7/04, Wellington Menezes de Oliveira invade uma escola municipal na Zona Oeste do Rio de Janeiro e mata 12 crianças. A partir da revelação do conteúdo de uma carta deixada por Wellington, a cobertura midiática encontrou pano pra manga fundamentalista.
A lógica conspiratória é: se a Al-Qaeda está no Brasil e se há uma chacina incomum nessas plagas, logo o atirador só pode ser um terrorista islâmico, certo? Errado. Por isso, jornalista apressado só entrega informação crua.
A única relação, ao menos por enquanto, entre uma ramificação do terrorismo islâmico e um massacre de crianças por um jovem ensandecido é que ambas as notícias revelam um fato: o terror está globalizado. Não apenas o terror de caracteres geopolíticos, mas o terror causado por um indivíduo sem motivações claras. Chacinas cometidas em colégios são algo que, para os brasileiros, só aconteciam nos Estados Unidos (ver os casos Columbine - 1999; Virginia Tech - 2007; e Chicago - 2008). Vê-las de perto nos deixa absolutamente perplexos.
Mídia que dá notoriedade a criminosos, como as reportagens vespertinas que entrevistam presos; facilidade no acesso a armas (como Wellington sabia manejá-las?); quadro aparente de patologia mental; adolescência marcada por extremismo religioso (isso explicaria sua obsessão por "pureza"?); ele se distanciava das pessoas ou as pessoas é que se distanciavam dele (ou as duas coisas)? Variáveis que criamos para dar sentido a essa tragédia.
Há uma corrente de estudos que classifica atos como esse do jovem Wellington de "violência pós-moderna". Segundo o antropólogo Roberto Albergaria, ela tem duas características: "a confusão entre o real e o imaginário (cada vez mais é o imaginário que vem da televisão) e a ausência de sentido". Uns matam por causa de dinheiro, outros matam para virar celebridades, e outros matam pela simples destruição. Este último caso é o mais complexo, porque não envolveria uma motivação clara.
Wellington queria virar celebridade? Ele queria vingar-se por ter sido rejeitado por um grupo social? Ele era um fanático religioso? Especialistas procurarão agora encaixar o assassino nos rótulos de psicótico, demente religioso, fanático, o que é natural em nossa busca de dar sentido aos fatos. Por outro lado, pessoas que o conheciam dizem que ele era alguém calado, vidrado em internet, sem amigos, mas também sem inimigos, enfim, um pacato cidadão.
Embora tenha ocorrido em lugares distintos, o ato hediondo de Wellington se parece com o dos garotos de Columbine. Jovens, bons estudantes, quietos, que conseguiram armamento facilmente, cuja soma do isolamento social com o gosto por games violentos resultou em um quadro de baixa autoestima, o que os levou a um surto de vingança contra a sociedade. É uma explicação que virou clichê, não?
Em 2003, o cineasta Gus van Sant dirigiu o filme Elefante, que retratava a tragédia de Columbine. O filme não é uma sucessão de cenas velozes de ação, nem tem mocinhos e bandidos com cada um em seu quadrado. Sendo um filme mais reflexivo, o filme não nos dá uma explicação fácil, mas nos leva a observar um conjunto de fatores que podem ter influenciado o terrível ato dos garotos. Eles não sobreviveram para dar explicações ao mundo de seus atos.
Por que "Elefante"? Aparentemente, devido ao ditado que diz que "há um elefante na sala de estar", ou seja, há um problemão em casa que todo mundo vê, mas ninguém se dá ao trabalho de entender como ele foi parar lá, nem acha que é seu trabalho tirá-lo da sala. Há problemas que dizem respeito à educação, à espécie de cultura midiática que temos, à falta de amizade verdadeira. Mas muita gente prefere dizer que o problema é de ordem religiosa, ressaltando sempre os extremismos e excessos de religiosos.
Os fatos, quaisquer fatos, mandam mensagens. Umas mais claras, outras menos. Cabe a sociedade saber interpretá-las e querer modificar-se. E até que Cristo venha para renovar este mundo, por Sua própria e gloriosa Pessoa e não pelos atos insanos de jovens armados, teremos de conviver com o incontrolável e com o que ainda não se pode conhecer.
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