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Mostrando postagens de novembro, 2011

por favor, não atirem no pianista

Dia do músico . Podia até ser feriado santo dado o caráter de santo remédio atribuído à música.  O pianista geralmente é visto como um agraciado, um privilegiado que lê hieróglifos e fala pelos dedos. Ou como um chato que martela o piano e o ouvido alheio, que é obrigado ao exercício de escalas musicais enquanto os outros são obrigados ao exercício da tolerância. Aos 13 anos, eu mesmo torturava as ajudantes domésticas tascando-lhes na escuta as escalas de Hanon às duas da tarde. Quando o almoço não tinha sobremesa, aí o castigo infligido era meia hora do terrível "Microkosmos" do Bartók. À noite, após o jantar e a sagrada reunião familiar, meu pai me pedia: "Filhão, toque aquela música". Era a deixa para eu dedilhar o  Pour Elise  de Beethoven. Quando recebíamos visitas ilustres, pelo menos ilustres para os meus pais, eu ouvia o indefectível pedido: "Toque aquela música!".  Mas um dia minha ridícula rebeldia pré-adolescente viria à tona. V

vida de ateu é uma dureza. ou não?

A colunista da revista Época Eliane Brum publicou uma história em que uma ateia entra no táxi de um evangélico. O leitor percebe que a passageira é muito bem-informada, em contraste com o taxista que é devidamente um "ignorante fundamentalista". Enquanto a passageira reflete sobre o caráter mercantil do neopentecostalismo, algo que é bastante estudado nos círculos acadêmicos, e com o que muito protestante concorda, o taxista apresenta uma fala bem simplória. Não se trata de uma história surreal. Mesmo os chavões proselitistas do taxista são costumeiramente ouvidos por aí. Os diálogos poderiam acontecer numa rua perto de você. Mas nesse texto, vejo que Eliane Brum dá a entender que ser ateu num Brasil evangélico é uma dureza. Ser ateu no Brasil é mesmo difícil? Só se para o ateu é difícil conviver com pessoas com visões de mundo diferentes. Talvez seja mais difícil para um cristão moderado conviver com este Brasil de um evangelicalismo cada vez mais estridente. Mas

UFC: Ultraje Feroz do Corpo

Dois homens em uma arena chutam cabeças e esmurram fígados, e isso rende o delírio da galera. Um quer a deformação do corpo do outro, e isso rende fama e fortuna. UFC (Ultimate Fighting Championship) quer dizer mesmo é Ultraje Feroz do Corpo. Mas para que ninguém fique a pensar na degradação física e espiritual do momento, é preciso fazer dessa rinha de galos um espetáculo televisivo. A TV Globo, que se recusava a cobrir as lutas do MMA (as artes marciais mistas), gasta sua semana esportiva explicando que agora, com novas regras, as lutas são “um pouco menos violentas do que o vale-tudo”, como disse o apresentador Luís Ernesto Lacombe. A sinceridade foi logo corrigida na fala seguinte: “Mas é bem bacana”. É bem bacana, então, ver a brutalidade elevada à categoria de esporte “civilizado”. É bem bacana, então, assistir a violência de socos, pontapés e sufocamentos. É bacana ver o público se extasiar quando um homem é espancado no chão (mas agora o juiz intervém mais rápido. A

da imperfeição da música moderna

"Muitas composições modernas são muito bonitas e chamativas no papel, mas pobres cantores! Colocam alterações onde querem, [...] Os atuais compositores só nos trazem mais confusão e grandes imperfeições, não de pouca importância, em vez de enriquecer, aumentar e enobrecer a música com recursos variados como fizeram tantos outros, querem transformar a música de modo que o belo não se distinguirá do bárbaro". Quem disse isso foi o italiano Giovanni Artusi, compositor e pesquisador musical. Você concorda com ele, certo? Você está pensando na decadência da música brasileira, no declínio da música sacra, em como as pessoas hoje estão colocando o feio no lugar do belo, etc?  O detalhe é que Giovanni Maria Artusi viveu de 1540 a 1613. Ele se envolveu numa discussão quando seu professor Zarlino, defensor do estilo tradicional, foi criticado por Vicenzo Galilei, teórico musical e pai de Galileu.  Artusi criticou as inovações do compositor Claudio Monteverdi, considerado há bastant