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Mostrando postagens de maio, 2011

cem palavras: o "eu-ísmo"

Há 25 anos, uma equipe liderada por Robert Bellah, da Universidade da Califórnia, pesquisou as crenças e valores dominantes das classes médias norte-americanas. Os resultados da pesquisa foram analisados e publicados no influente livro Habits of the Heart (Hábitos do Coração, tradução livre). Segundo o livro, a sociedade é incrivelmente individualista em seu estilo de vida. Mesmo a religião é vista como algo não-comunitário e totalmente de cunho privado. Para os autores, uma entrevista presente no livro resume bem o que é a religião americana. Na entrevista, uma jovem de nome Sheila disse com franqueza:  "Eu acredito em Deus. Mas não sou uma fanática religiosa. Nem lembro da última vez que fui a uma igreja. A fé que me leva é o 'Sheilaísmo'. Somente a minha própria voz". (Citado em Marsden, George. Religion and American Culture , 1990, p. 257)

um demônio no piano, um anjo na bateria

               Ao olhar essas duas imagens, alguns dirão que a da esquerda está profanando um instrumento e que a outra é uma blasfêmia contra a música e a religião. Se estivesse vivendo hoje na Terra, Jesus tocaria bateria? Alguns responderão: nunca! Mas, no fundo, não sabemos a resposta. Temos certeza que Ele não poria fogo no piano da igreja e nem se vestiria com as roupas do antigo Israel. Eu tinha 18 anos e mais arrogância que técnica pra tocar piano. Eu participava de um programa jovem na igreja ali por 1989 e um quarteto ia cantar uma música animada. Vale dizer a quem não era nascido no período jurássico que “música animada de quarteto nos anos 80” não tinha nada ver com axé ou funk gospel (mas tinha gente que não gostava assim mesmo). Durante a música, eu comecei a fazer uma levada típica de bailinho movido a rock dos anos 50. De repente, um garoto de uns 10 anos de idade disparou até a frente e começou a balançar os quadris como um Elvis Kid - e

o grão da voz

Luiz Tatit. Aprendi muito no mestrado com esse professor da USP. Uma das frases do Tatit nunca me saiu da cabeça: "Se você não gosta de uma música, experimente ouvi-la na voz do seu cantor predileto" . Eu nunca fui fã da dupla Zezé di Camargo e Luciano e do esforço para gritar "É o amoooor, que mexe com minha cabeça lalaiá lalaiá...". Até o dia em que assisti o biofilme Dois Filhos de Francisco e ouvi a mesma música na voz de Maria Betânia. Não, também não sou fã de Betânia. O que gostei, na verdade, foi da voz sem berreiro, em voz mais grave, dita sem afobação, no arranjo sem a batidinha repetitiva e efeitos de teclado Casio. Percebi que a música tinha prumo, tinha uma melodia boa. De fato, aprecio vozes femininas mais contidas e arranjos mais intimistas e sem grandiloquência. Enfim, gosto do famoso "menos é mais". Talvez aconteça de pessoas gostarem mais da música da Maria Betânia se a ouvirem na voz de Zezé di Camargo. Conheço pouco de ambos os canto

jovens velozes + sons furiosos

[O site da revista Rolling Stone destacou uma pesquisa sobre música e velocidade no trânsito. Meus comentários sobre os resultados seguem depois]. Os adeptos do cooper sabem que não há nada como uma música agitada explodindo nos ouvidos para aumentar o pique da corrida. Não dá para ouvir canções calminhas ou você vai é querer voltar para a cama. Agora, essa mesma lógica, quando aplicada a um motorista, pode ser perigosa. É isso que mostra uma pesquisa realizada pela empresa fabricante de peças de automóveis Halfords, que entrevistou condutores para saber se o comportamento deles é afetado pela música que ouvem enquanto estão atrás do volante. 60 % dos participantes responderam que sim. A análise continuou para saber quais faixas afetavam esse comportamento e o resultado foi o seguinte: As mais perigosas 1 - Beastie Boys - "Sabotage" 2 - The Prodigy - "Firestarter" 3 - Papa Roach - "To Be Loved" 4 - Kanye West - "Stronger" 5 - Rachmaninoff

cem palavras: com quanto glacê se faz um blockbuster

A tradução brasileira para cinema blockbuster é “filme arrasa-quarteirão”. Nesse tipo de filme, tudo vira terra arrasada mesmo. Na verdade, eles costumam é arrasar nas bilheterias. São filmes em que a maior fatia do orçamento se destina ao cachê dos astros e/ou à equipe de CGI (a computação gráfica). A imagem acima é do filme 2012 , um legítimo (e medíocre) "arrasa-planeta". Tirando as honrosas exceções de praxe, esses filmes normalmente são como bolo de casamento: muito glacê e nenhum valor nutritivo . Com a palavra: Os blockbusters globais geralmente mostram “magos; mulheres insinuantes de poucas palavras; homens de poucas palavras que podem dirigir com esperteza qualquer veículo, destruir espetacularmente qualquer coisa e saltar ilesos do alto de qualquer coisa; personagens de história em quadrinhos; a história do mundo baseada em livros escolares da sexta série; explosões; um fenômeno da ciência desconhecido; uma encarnação do mal; mais explosões” (Louis Menand, The New

a lady é Gaga mas não rasga dinheiro

O clipe começa numa estrada com os 12 discípulos em motocicletas e vestidos com jaquetas de couro onde se lê o nome de cada um deles: “Peter, Judas,...”. Na garupa, está Maria Madalena. É ela que saca um revólver de cujo cano sai um batom com o qual borra os lábios de Judas para que este dê seu beijo da traição em Jesus. Na cena seguinte, Jesus e Judas aparecem numa banheira onde Maria Madalena lhes lava os pés. Poderia ser uma dessas encenações gospel modernosas dos eventos da Páscoa, se Maria Madalena não fosse a atual senhora da transgressão pop, Lady Gaga. Mas não é ela mesma que, nas entrevistas, diz crer no evangelho e amar e respeitar todas as crenças? O que aconteceu? De fato, a Lady é Gaga mas não rasga dinheiro. Ao contrário, ela tem controle sobre todo o modo de produção de seus vídeos e canções. É uma cantora em pleno domínio de sua loucura. Lady Gaga é formada na Academia Madonna de Artes Musicais e Performáticas. Ela sabe que toda performance pop tem de ser planejada e

o capitão obama contra o odioso osama

Osama Bin Laden, o vilão globalizado, foi morto por Barack Obama, o xerife globalizado. Osama, que elegeu a civilização judaico-cristã-ocidental como alvo preferencial de sua fúria homicida, teria sido morto com um tiro na cabeça e jogado ao mar após os rituais islâmicos. Fica meio difícil de acreditar nessa reverência súbita, contando que militar americano só dá tratamento religioso à bandeira americana. A Casa Branca decidiu não mostrar nenhuma foto do corpo estendido no chão. Só que, sem turbante e sem documento, o povo fica descrente.    Mas sejamos francos. Do jeito que as pessoas amam uma teoriazinha da conspiração, mesmo que os soldados tivessem filmado a ação espetacular, muita gente veria apenas uma bem editada encenação hollywoodiana, e colocariam as imagens na mesma seção histórica sob suspeita onde estariam os passos do homem na lua. Não é que a civilização judaico-cristã-ocidental esteja reclamando da morte de Osama. Mas a porção Tomé-ocidental se acostumou a ver para cr