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Mostrando postagens de 2013

os melhores livros em 2013

Meninos, eu li. E reli. Tentando acabar a tese enquanto ela não acaba comigo, esse ano ainda foi de muita leitura acadêmica. Deu pra respirar de vez em quando: Delas é o reino do céu (Karina Bellotti; Editora Annablume) – um estudo minucioso sobre a produção evangélica para crianças (os produtos Smilingüido e a revista Nosso Amiguinho). A autora, professora do departamento de História da UFPR, demonstra como os valores religiosos e sociais são processados e organizados para o consumo infantil. Uma noite no palácio da razão (James R. Gaines; Editora Record) – a história do encontro de Johann Sebastian Bach com o rei Frederico, o Grande. Com uma narrativa prazerosa, o livro conta minúcias da vida dos dois grandes personagens e vai avançando para o encontro do músico de fé com o monarca iluminista. Sociologia da religião: enfoques teóricos (Faustino Teixeira, organizador; Editora Vozes) – reunião de diversos artigos sobre estudiosos da religião (Max Weber, Durkheim, Levi-St

os melhores filmes em 2013

Meninos, eu vi. E pra mim, os melhores filmes que vi neste ano foram estes: INCÊNDIOS (2010) – qual o preço de escavar o passado para descobrir quem você é? Nesse filme, esse trajeto pode ser dolorido, mas assisti-lo é uma experiência enriquecedora. AMOR – um dilacerante conto moderno sobre o envelhecimento, sobre a morte e os limites do amor. Aqui não existe nada de fantasia da melhor idade. A HORA MAIS ESCURA – o filme sobre a caçada americana a Osama Bin Laden não é ufanista, não hasteia bandeira. Nem faz apologia da tortura para obter informações. A tortura é mostrada, mas o que está em questão são os métodos utilizados para revidar o ataque terrorista. É sobre uma obsessão e suas consequências na mentalidade americana. AS AVENTURAS DE PI – um filme francamente espiritual com imagens maravilhosas e uma consciência de que Deus se importa e age de formas inesperadas na vida das pessoas. ANNA KARENINA – nessa adaptação do clássico de Tolstoi, o diret

a ditadura do look

Ninguém protesta contra a ditadura do look, aquela em que você é punido não pela aparência do mal, mas pela má aparência. Na ditadura do look, não basta ser legal, tem que ter style; você pode ser chato, desde que seja fashion.

flasmob de canção pop em terreno cristão. pode isso?

Grupo vocal adventista faz flashmob da música "Somebody to Love", clássico da banda Queen, no refeitório do Centro Universitário Adventista (UNASP-EC). Para muita gente, a música cantada profanou o território santo do instituto e é um sinal da grave interação do jovem cristão com a demoníaca cultura popular. Outros já predisseram a disseminação de flashmobs juvenis pelo adventismo afora.  Para outros, tratou-se simplesmente de uma agradável performance de uma bonita música, com uma bonita letra, muito bem executada no espaço do refeitório dos alunos.  Ah, mas a música é do Queen, uma banda de rock, e o rock está no índex dos estilos desqualificados para a escuta musical do cristão. Para piorar, Freddie Mercury era homossexual, e provavelmente, agora os alunos vão se interessar por bandas de rock e pela orientação sexual de Freddie Mercury.  1) Não sou roqueiro, nem fã de rock. Gosto de música boa, sem vulgaridade, bem-feita, e que nã

as promessas de um troféu gospel

É noite em Jerusalém e a plateia aguarda com expectativa do lado de fora do átrio: “E o Troféu Ebenezer de Melhor Salmista vai para... [que rufem os adufes] Jedutum!” Os filhos de Hamã aplaudem, e em coro saúdam com a típica manifestação mosaica: “Ele merece! Ele merece!” Mas, no fundo, esperavam sair com o prêmio nas mãos. Agora, até as raposas sem covil sabem que rolos e rolos de pergaminho com as letras de Jedutum vão ser vendidos com a inscrição de “melhor cantor do ano”. 3 ou 4 mil anos depois... O Troféu Promessas se define como um “evento com apoio da Rede Globo e um instrumento para honrar a vida daqueles que se dedicam à música gospel”. É o que diz no site da premiação. Talvez fosse suficiente dizer que se trata de um evento dedicado a premiar os cantores gospel, mas é preciso celebrar tanto a inédita parceria com a mídia dominante como também justificar a competição com tonalidades nobres. Fico pensando que se quisessem honrar a vida do cristão não bastari

a autoridade, a ciência e a religião

Duas ou três coisas que eu sei sobre o cancelamento de evento criacionista pela Unicamp em outubro/2013: - A censura da Unicamp ao evento de debatedores criacionistas foi um atentado à livre discussão de ideias.  Os cristãos podem se queixar mesmo.  Mas vale perguntar quantas faculdades cristãs sediariam um evento de evolucionistas? - As primeiras universidades europeias e americanas tinham, em seu quadro de professores, teólogos que traziam a ciência à luz. Agora os religiosos são empurrados para dentro do armário acadêmico. - Em 1925, o professor John Scopes foi acusado de violar a lei ao ensinar a teoria da evolução em escolas do Tennessee e sua defesa foi impedida pelo "lobby religioso" de trazer cientistas ao julgamento. - Em 2013, evento criacionista é cancelado por "lobby ateu" e é considerado doutrina anticientífica e seus palestrantes impedidos de apresentar suas ideias. - O pêndulo da autoridade já foi da religião e agora mudou de lad

existe mesmo um louvor que agrada a Deus?

Já li textos sobre música sacra que me dão a impressão de que o autor tem a fórmula da música que agrada a Deus. Uns garantem que só os hinos antigos sem acompanhamento de guitarras ou percussão podem agradar a Deus. Outros, que qualquer sonoridade contemporânea é capaz de agradar a Deus. O que nenhum desses lados refletiu é que a postura de agradar a Deus com esse ou aquele tipo de música não possui nenhuma base bíblica. Segundo um texto de recorte bem tradicional, o cristão deve louvar a Deus mesmo com uma música da qual não gosta e considera ultrapassada, tediosa e formal. Então o louvor é um sacrifício, talvez com duplo sentido: uma tortura para quem canta, ou para quem ouve uma música da qual não gosta; e um sacrifício de louvor capaz de agradar a divindade. Esse último sentido (sacrifício para agradar a divindade) me parece muito próximo da magia, a qual, de acordo com alguns pensadores (Durkheim e Weber incluídos), difere na religião. Na magia, o sacrifício é usado

toda nudez será consagrada

Nas sociedades antigas, não havia dicotomia entre “vida religiosa” e “vida secular”. A religião ou o trabalho não eram aspectos compartimentados da vida, mas constituíam uma só esfera integrada, holística. Essa é a compreensão na cultura islâmica e também nas religiões de raiz africana. Na visão tradicional judaica, por exemplo, as atividades humanas são realizadas para a glória de Deus e “em tudo” se dá graças a Deus. A procriação, o casamento, a refeição, o sono, o trabalho e o lazer, a música e as leis, são dádivas celestes e oportunidades para se cooperar com a bondade e a justiça divinas.  A ética calvinista sublinhava a motivação dos protestantes anglo-saxões do século 18 quanto a trabalhar honestamente, poupar rigorosamente e a divertir-se de maneira frugal. De um certo modo, era uma visão que admitia um forte senso da presença de Deus, que também era um juiz a observar as práticas dos indivíduos e a quem se devia oferecer o tempo e os melhores empreendimentos. Em

PREpara que a música ainda vai ficar pior

Melhor cantor do ano: Luan Santana Melhor cantora do ano: Ivete Sangalo Melhor videoclipe: “Show das Poderosas” (Anitta) Música-chiclete: idem Esse foi o resultado da votação popular do Prêmio Multishow 2013, que ainda premiou o Sorriso Maroto como Melhor Grupo. Veja que foi o voto popular que elegeu os melhores do ano. Como não é o caso de ficar falando mal do povo e do gosto popular, vamos pensar em algumas perguntas: Quem é que está votando? Não sei. Talvez seja o mesmo pessoal que votaria em “Crepúsculo” ou “Velozes e Furiosos trocentos” como melhor filme. Ou são os mesmos que acham que o humor da turma do Porta dos Fundos é a coisa mais inteligente e divertida que há. Não havia concorrentes melhores? Não. Luan Santana disputava o prêmio com Fiuk, Thiaguinho (que ganhou o prêmio de Melhor Música com “Buquê de Flores”) e o vocalista do NX Zero, enquanto o funk de Anitta concorria com representantes da fina flor da música brasileira, como “Camaro Amarelo” e “

Ensinar é coisa de inconformado

Ensinar é coisa de inconformado Já disseram por aí que ensinar é formar É formação Formar a ação Fomentar a ação e a reflexão Formar o docente (de forma decente) Jamais formatar o docente Isso, sim, (e o salário) é indecente Por mim, basta informar, Diz o professor deformado É sonhar demais querer transformar? Pergunta o professor inconformado E não vos conformeis com esse século... Quero ver formar sem formalizar Unidade, conte comigo Uniforme, não Se formar não é uniformizar Então vamos multiformizar? Nem multi nem maxiformizar É desformizar, é antiformizar É fazer tudo nos inconformes Ensinar é trabalho pra inconformado Ensinar é tirar da forma Ou o ensino sai da forma Ou nossa prática vai ficar no formol E não vos conformeis com as práticas desse século... by Joêzer Mendonça * * * * * Escrevi essas linhas minutos antes de participar como mediador na mesa-redonda "Formação docente e Ensino Musical na C

qual a sua desculpa para ter medo?

Dá pra desculpar quem tem medo de ladrão, inseto nojento ou medo de não passar no vestibular. E claro, ter medo da morte é natural e conserva os dentes. Outra coisa natural é ter medo da polícia de hoje. Aliás, reparou que só os inocentes têm medo da polícia? Mas tem gente que leva uma vida baseada no medo. É gente com fobia do sol, fobia de carne vermelha, fobia de salada, fobia de unha pintada, fobia de gay, fobia de muçulmano, fobia de americano, fobia de presidente negro, fobia de papa argentino, fobia de papa alemão, fobia de igreja evangélica, fobia de galinha preta, fobia de religião, fobia do fim do mundo, fobia da Globo, fobia do PT, fobia de conspiração, fobia de que tudo aquilo em que acredita não passe de uma grande ilusão, fobia de filosofia, fobia de alegria, fobia de ser feliz com o que se tem!

por que ouvimos sempre as mesmas músicas?

Estudo mostra que as pessoas ouvem sempre as mesmas músicas   [Iara Biderman, Folha de S. Paulo , 12.8.13] A opção de ouvir toda e qualquer música nova está a um toque na tela. E você vai sempre escolher aquelas mesmas velhas canções. Quem crava qual será a sua seleção são os autores de um estudo feito na Universidade de Washington sobre o poder da familiaridade na escolha musical. A pesquisa foi feita com mais de 900 universitários, autodeclarados apreciadores de novos sons. Pelo menos foi isso o que disseram em questionários prévios. Curiosamente, o lado B dos participantes apareceu quando foram confrontados com escolhas reais entre pares de músicas. A maioria optou por aquelas que tinha ouvido mais vezes. Ouvir sempre a mesma música não é falta de opção ou imaginação. Segundo o coordenador do laboratório de neuromarketing da Fundação Getulio Vargas de São Paulo, Carlos Augustos Costa, é coisa da sua cabeça. "O cérebro não gosta de nada complicado. Se

crianças e música clássica

O que é música clássica? Só as crianças tem a pureza da resposta para essa pergunta. Não estou fazendo merchan. Mas se uma propaganda incentiva pode incentivar a criançada a curtir música clássica, eu compartilho.

um grito no escuro, três preconceitos claros

Que impressão você tem das igrejas cristãs? Sua impressão procede de estudos de casos, envolvimento pessoal ou se baseia em ideias preconcebidas e/ou inflexíveis sobre determinadas igrejas? Em 1980, Michael e Lindy Chamberlain acampavam com a família numa região turística na Austrália. Numa noite, a mãe viu seu bebê de nove semanas ser levado por um dingo para fora da barraca. Muitas pessoas saíram para procurar o bebê, mas ninguém o encontrou. Após um primeiro período de compaixão da comunidade pelo sofrimento do casal Chamberlain, vários boatos maliciosos começaram a circular nas ruas e na mídia. A mãe, então, foi acusada de matar a própria filha – ou numa explosão de depressão pós-parto ou num suposto ritual religioso adventista. A cobertura jornalística sensacionalista e o preconceito religioso se misturaram a motivações políticas locais e, num julgamento sem provas conclusivas que tomou proporções inéditas no país, Lindy Chamberlain foi condenada à prisão perpétua. Em

O garoto que chamava um jambeiro de USS Enterprise

Diário de bordo. Data estelar: 1983, um dia qualquer, 15:00. Eu já terminara os deveres da escola e as lições de piano – aquelas que o professor tinha mandado e aquelas que eu gostava. Logo começaria mais um episódio de Jornada nas Estrelas – naquele tempo, a gente não era obrigado a chamar seriado estrangeiro pelo título original. “Voyage to the Bottom of the Sea” era Viagem ao Fundo do Mar, “Get Smart” era Agente 86 e “Star Trek” era Jornada nas Estrelas. O Capitão Kirk, o Sr. Spock e o Dr. McCoy estão às voltas com mais um ataque de inimigos dos terráqueos após uma expedição perigosa a um planeta desconhecido. Perigo e exploração no espaço: o que mais poderia pedir um garoto de 13 anos que lia Julio Verne como quem saboreava um jambo colhido no pé! Desligada a TV preto e branco, chega a tripulação, quer dizer, minha turma. Cada um conta o que assistiu: “Você viu quando o capitão Kirk escapou dos tiros?” “E a cara do Spock, sem entender a emoção do dr. McCoy?” “E o teletr

o cinema e o povo nas ruas: sete filmes

Temos acompanhado lances históricos aparentemente inéditos no Brasil. É a primeira vez que a população em massa sai às ruas para exigir mudanças estruturais na forma de governar o país. A Inconfidência foi uma ação da elite intelectual e econômica; a Independência foi uma ação da corte contra si mesma; a República, uma ação militar. A massa popular em ação simultânea no país inteiro, só agora. Muitos cineastas se envolveram com questões sociais e disseram "luz, câmera, revolução". Aqui estão sete filmes que traduziram o espírito da revolução popular no meio da rua: A Batalha de Argel , 1966, de Gillo Pontecorvo. Quem luta : os líderes da resistência da Argélia. Motivo : obter independência da França. Resultado : filmado com tamanha eficácia e realismo que o filme foi banido da França e proibido pela ditadura brasileira por vários anos e por razões óbvias. O Encouraçado Potemkin , 1925, de Serguei Eisenstein. Quem luta : os marinheiros russos. M

o curioso caso do protestante que não protestava

Dois homens um dia tomaram a mais louca das lúcidas decisões: contrariar as autoridades em assuntos em que elas estão erradas. Ambos sabiam dos riscos de enfrentar governantes, polícia, oposição e tentativas de assassinato. Mas eles pareciam dispostos a não recuar um centímetro do front onde tinham firmado sua consciência. Acontece que esses dois homens eram religiosos e tinham sido ensinados a respeitar a autoridade civil ou religiosa. Mas não podiam calar-se diante quando as autoridades não eram fiéis a princípios civis ou religiosos. Homens de palavra e da Palavra, eles saíram a falar nas ruas e nas igrejas, para jovens e velhos, para homens e mulheres. Denunciaram os pecados da instituição e da sociedade. Não viveram o suficiente para ver a consolidação de suas teses e a realização de seus sonhos. Um, branco, era chamado de Martinho Lutero. O outro, negro, era Martin Luther. O que é a mesma coisa e que na linguagem de hoje quer dizer “homens que protestam”. O p