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Mostrando postagens de novembro, 2014

interestelar ou a salvação vem de nós mesmos

Um dos maiores problemas do filme Interestelar é ser tedioso. Não consegui entrar no clima do filme. Embora tenha algumas cenas muito boas, achei este filme apenas pretensioso e vazio.  O segundo grande problema é o grau de solenidade que o diretor Christopher Nolan tentou conferir ao filme. Não há problema em usar o som de church organ (órgão de igreja) para emoldurar as cenas com uma aura de reverência ou sagrado. O cineasta Stanley Kubrick fez isso em 2001 - Uma odisseia no espaço , com resultados bem opostos (embora alguns possam considerar  2001 enfadonho e pretensioso).  Por sua vez, Nolan utiliza essa sonoridade associada à solenidade em cenas onde o tom solene não cabe, talvez porque mal-dirigidas, como na cena de um personagem de olhar perdido pro horizonte.  As citações a  2001  são muitas, mas não soam como homenagem e sim como um pastiche, não só nos trechos com som de órgão (Kubrick usou o poema sinfônico “ Assim Falou Zaratustra ”, do compositor Richard S

inovação musical: isso é coisa de música sacra?

Handel sem O Messias , Bach sem A Paixão Segundo S. Mateus : se os críticos desses compositores tivessem vencido, a música sacra estaria desprovida de duas de suas maiores realizações.  Na Inglaterra do século 18, George F. Handel era um alemão a serviço de Sua Majestade. Sem licença para ousar, mas com raro tino de espetáculo, Handel fazia sucesso na corte inglesa. Nem por isso conseguiu estrear em Londres aquela que viria a ser a sua obra mais famosa, o oratório O Messias . Ele foi, então, para Dublin, onde alcançou tamanho êxito que os empresários londrinos logo perceberam o potencial comercial da obra. No entanto, inclusive por ser uma obra de caráter sacro exibida num teatro, e não em uma igreja, O Messias encontrou opositores entre músicos e eclesiásticos da corte. Algumas alegações contra o oratório de Handel eram: o número excessivo de notas, a orquestração considerada mais apropriada para a ópera e não para uma peça sacra, a linha vocal dos solos que lembrava

Manoel de Barros e o artista

Para lembrar do grande poeta das miudezas. O menino que carregava água na peneira Tenho um livro sobre águas e meninos. Gostei mais de um menino que carregava água na peneira. A mãe disse que carregar água na peneira era o mesmo que roubar um vento e sair correndo com ele para mostrar aos irmãos. A mãe disse que era o mesmo que catar espinhos na água. O mesmo que criar peixes no bolso. O menino era ligado em despropósitos. Quis montar os alicerces de uma casa sobre orvalhos. A mãe reparou que o menino gostava mais do vazio, do que do cheio. Falava que vazios são maiores e até infinitos. Com o tempo aquele menino que era cismado e esquisito, porque gostava de carregar água na peneira. Com o tempo descobriu que escrever seria o mesmo que carregar água na peneira. No escrever o menino viu que era capaz de ser noviça, monge ou mendigo ao mesmo tempo. O menino aprendeu a usar as palavras. Viu que podia fazer peraltagens com as palavras. E começ

a música em toda parte do cérebro

Entrevista do jornal O Globo (setembro/2007) com o neurologista Oliver Sacks. O texto na íntegra está aqui . O GLOBO ENTREVISTA Oliver Sacks Para o neurologista britânico Oliver Sacks, a musicalidade é tão primordial à espécie quanto a linguagem e entender a relação entre música e cérebro é crucial para a compreensão do homem. Em seu mais novo livro, “Alucinações musicais” (Editora Companhia das Letras), o especialista relata casos de pessoas que reagem à música de formas incomuns. Há os que simplesmente não conseguem ouvi-la. E há os que a ouvem o tempo todo, mesmo quando nenhuma melodia está tocando. Há gente que passou a ouvir os sons de forma diferente após ser submetido a uma cirurgia cerebral. E mesmo os que desenvolveram um incomum talento musical. Nesta entrevista, Sacks conta que há um vasto caminho ainda a percorrer para que se possa entender completamente esses fenômenos. Mas uma coisa, diz, é fato: “A música se apossou de muitas partes do cérebro humano.” Rober