Se uma imagem vale mil palavras, quanto vale uma imagem (e uma
sonoridade) que comunica a Palavra?
Nessa perspectiva, um álbum cristão que, por algum tempo, ultrapasse em
vendas as coletâneas de Michael Jackson, Elton John e Madonna e o mais recente
trabalho de Taylor Swift tem um inegável simbolismo. Não, isso não representa a
o triunfo do gospel sobre o mundo pop como gostariam de dizer os levitas mais
afoitos. Até porque o pop e o gospel estão em amigável interação.
Esse 1º lugar, ainda que temporário, mostra para a indústria
fonográfica a força do mercado cristão. Há evangélicos que abominam
a expressão “mercado cristão” - e o fazem de forma tão depreciativa e ingênua
quanto alguns detratores esquerdistas repudiam o “mercado capitalista”.
No entanto, verdade seja dita, nota-se um estímulo desenfreado ao consumo de artigos que
ganham a alcunha de cristão somente porque são comercializados por empresários cristãos. Daí a existência de pulseira cristã, capa de celular evangélica, sandálias sagradas,
toalhas espirituais e assim por diante. Esse merchandising realmente nada tem
de evangélico e confirma à sociedade em geral que a força da grana ergue e
destrói tradições belas.
Por outro lado, o objeto livro assume valor bem maior que o objeto CD
ou DVD de músicas. Chego a pensar que, se fosse um livro denominacional que
tivesse sido divulgado nos portais Terra e G1 e por dois dias liderasse a venda
de livros de não ficção na Livraria Saraiva, muita gente honrada estaria proclamando que as portas do mundo se abriram à mensagem de
Cristo.
Mercado, visibilidade evangélica: não é esse simbolismo mais óbvio que quero comentar a respeito do CD/DVD Princípio.
Mercado, visibilidade evangélica: não é esse simbolismo mais óbvio que quero comentar a respeito do CD/DVD Princípio.
Em Human Accomplishment (2004), Charles Murray escreveu que “a religião
é indispensável para impulsionar a realização da grande arte”. Não concordo
integralmente com essa frase, mas quero usá-la para dizer que uma sólida compreensão
da religião é indispensável para impulsionar a excelência na realização da arte cristã.
O álbum Princípio expressa noções teológicas que só advêm de estudos
minuciosos da Bíblia e da literatura cristã. Somado a isso está a formação artística. Leonardo Gonçalves participa
da elaboração de letras e da composição de melodias e arranjos. O resultado é que a solidez hermenêutica encontrou um valioso meio de expressão na carpintaria do discurso musical (Palavrantiga, João Alexandre, Stenius Marcius, Jader Santos, Lineu Soares & Valdecir Lima estão aí há anos provando a veracidade dessa equação).
Nesse sentido, pode-se debater
a necessidade ou não de melismas vocais do cantor, mas não a sua precisão. Assim como alguém pode discordar da interpretação teológica das letras, mas não vai depreciar a sua enunciação.
Em suma, muitos discutirão a forma retórica, mas quem condenará a
verdade enunciada?
Não é todo dia que uma produção cristã com músicas que agregam o
contemporâneo e o tradicional, letras com densidade teológica e arranjos
musicais sofisticados chega ao primeiro lugar do iTunes.
Quando isso acontece, vale considerar três questões:
1) É possível ser contemporâneo sem ceder aos modismos gospel.
2) É possível fazer letras modernas sem ser teologicamente superficial.
3) Se “Princípio (ao vivo)” lhe parece pop demais, eu lhe pergunto que mundo musical
diferente teríamos se os recentes sucessos do pop nacional buscassem a excelência poético-musical e
as alturas espirituais desse álbum...
Comentários
Se você assistiu ou ouviu somente as 3 ou 4 primeiras músicas, pode ter ficado com essa impressão. Se você assistir o DVD até o fim verá como o cantor vai gradualmente inserindo mensagens teológicas e fraternas profundas. por isso eu terminei o texto dizendo que se há espectadores que chamam esse dvd de pop, quem dera o pop da mídia secular nacional fosse assim...
abs